A vacina Influenza não fez efeito? Estou gripado de novo
Muitas vezes você acaba de se recuperar de uma forte gripe e logo ela aparece de novo. A vacina Influenza não fez efeito?
Ninguém tem gripes repetidas em tão curto prazo. O Prof. Dr. Vicente Amato Neto, autor do capítulo de infectologia do livro Medicina Mitos e Verdades (Carla Leonel), esclarece que existem vários tipos de vírus da gripe, que se manifestam em épocas diferentes. Com o passar dos meses o vírus sofre uma alteração, mas ele precisa de tempo pra isso acontecer. Uma dose da vacina protege durante 1 ano somente contra aquele vírus específico, tendo eficácia sobre 70 a 80 % das pessoas e explicaremos abaixo porque em alguns casos ela pode não produzir imunidade ou dura menos tempo. Por isso, não pense que você está protegido simplesmente porque tomou a vacina no ano anterior. Os cepas do vírus Influenza se modificam todos os anos.
Da mesma forma, existem outros vírus respiratórios (que não o da gripe, influenza) e podem ser confundidos com o vírus da gripe por circular também na mesma época. Citamos como exemplo, o vírus sincicial respiratórios, vírus parainfluenza, adenovírus, etc. O quadro clínico da gripe é claro e o médico preparado sabe fazer o diagnóstico. Uma pessoa com um pouquinho de dor de cabeça, febre baixa e coriza não está gripada. Se você está rouco, tem febre baixa, tosse e dor de garganta, tem sinal de resfriado, laringite, bronquite ou traqueite. A gripe instala-se rapidamente, com forte dor de cabeça, dor no corpo, febre alta e tosse muito intensa.
A vacina contra Influenza utilizada no ano de 2019 é trivalente. Ela possui os antígenos purificados de duas cepas do tipo A e uma B em combinação. Os tipos que estarão contidos na vacina são definidos pela Organização Mundial da Saúde - OMS, para o hemisfério Sul de acordo com as informações da vigilância epidemiológica.
Os 3 tipos de cepas de vírus da vacina Influenza em 2019:
• A/Michigan/45/2015 (H1N1) pdm09
• A/Switzerland/8060/2017 (H3N2)
• B/Colorado/06/2017 (linhagem B/Victoria/2/87)
Qual o tipo de vírus da gripe é mais perigoso e considerado de maior gravidade?
A gripe é uma infecção viral e muitas vezes traz complicações, já que afeta todo o sistema respiratório. Ela varia de leve a grave e pode, inclusive, causar a morte. Hospitalização e morte, acontece com mais frequência, no grupo de alto risco: crianças, idosos e pessoas portadoras de doenças crônicas ou outra condição clínica especial. Para você ter uma ideia, durante as epidemias de gripe, cerca de 3 a 5 milhões de pessoas desenvolvem a forma grave e o número de óbitos no mundo, varia entre 290.000 a 650.000 mortes.
Existem três tipos de vírus Influenza: A, B e C.
• Os tipos A e B são os mais frequentes e os mais graves. Apesar do tipo A ocorrer em 75% das infecções, em algumas temporadas é o tipo B que prevalece.
• O tipo C dificilmente causa a gripe na forma grave.
• As cepas do A e B sofrem mutações constantes e estão associados ao aumento das taxas de hospitalização e mortes por pneumonia, principalmente em pessoas que fazem parte do grupo de risco.
• A imunidade reduz as chances de infecções, apesar de existir um subtipo A ou linhagem B que confere pouca ou nenhuma proteção contra novas variantes de vírus. Por isso, em uma mesma temporada, pode ocorrer infecções por mais de um tipo ou subtipo de vírus influenza. Quem estiver vacinado e for acometido por esse tipo de vírus, tem as chances de infecção reduzida.
• A gravidade da doença é maior quando surgem cepas (variáveis do tipo A ou B) para as quais a população tem pouca ou nenhuma imunidade.
• Em pessoas não vacinadas, grande parte de mortes pela Influenza é registrada em idosos, e a maioria da hospitalização por complicações são crianças menores de 5 anos.
• As crianças também podem morrer por consequência da gripe e, principalmente, menores de 2 anos, mesmo que saudáveis. Clique no link e leia o artigo correspondente: Sinais e sintomas da gripe na criança que indicam gravidade
Que tipo de complicação provoca a morte por gripe?
A complicação mais frequente é a pneumonia que pode ser causada pelo próprio vírus ou por complicação e infecção bacteriana.
Complicações cardíacas graves que levam a morte podem ser causadas por vírus A e B, independente da presença de pneumonia. Isso porque, frequentemente a influenza causa a exacerbação das doenças crônicas cardiovasculares, pulmonares (DPC, asma), metabólicas (diabetes) e pode desencadear o infarto ou AVC. Durante o pico da influenza, observa-se um nítido aumento das hospitalizações e mortes por doenças cardíacas isquêmicas e acidente vascular cerebral. Outras complicações causadas pelo vírus Influenza neste grupo de pessoas:
• Miocardite(clique para ler),
• Pericardite(clique para ler),
• Miosite(clique para ler),
• Rabdomiólise,
• Manifestações neurológicas: convulsão, encefalite, síndrome de Guillain Barré.
Em gestantes, o risco de complicação também é elevado, principalmente no 3º trimestre de gravidez e continua alto no 1º mês após o parto. Estudos mostram que o risco de morte nesta condição varia de 2, 77 a 4, 4 vezes maior, dependendo do vírus circulante.
Trabalhadores de saúde também estão entre o grupo de risco por estarem em contato direto com portadores da gripe e por isso é indispensável a vacinação. Até como medida de proteção e evitar passar o vírus aos pacientes que estão sob seus cuidados.
Todas as pessoas que vivem em ambientes aglomerados tem o risco aumentado de contrair a gripe. A transmissão ocorre por partículas eliminadas por pessoas infectadas e objetos contaminados por secreções.
São frequentes os surtos de gripe em usuários de transportes coletivos como ônibus, metro, aviões etc, não só em passageiros como nos tripulantes.
Como é feito o diagnóstico da gripe? Existe algum exame específico?
Sim. O diagnóstico da Influenza é feito com a metodologia de Biologia Molecular RT PCR em tempo real (RTqPCR) por 85% dos Laboratórios Centrais de Saúde Pública (Lacen).
Existe alguma condição que anula o efeito da vacina contra gripe? Ela pode não ter efeito?
• Pacientes em tratamento com imunossupressores ou radioterapia podem ter a resposta imunológica reduzida ou anulada.
• Estão fora deste grupo pacientes que fazem uso de corticoides em terapia de reposição ou tratamento de curto prazo (menos de 2 semanas) ou por outras vias de administração que não causem imunossupressão.
• Doadores de sangue devem esperar 48 horas para receber a vacina.
Qual a verdadeira eficácia da vacina? Após quanto tempo a pessoa já consegue a imunidade?
• Em adultos saudáveis, a detecção de anticorpos protetores ocorre entre 2 a 3 semanas após a vacinação, e dura entre 6 e 12 meses.
• O pico máximo de anticorpos surge entre 4 a 6 semanas, apesar que em idosos, os níveis de anticorpos pode ser menores.
• Com o passar do tempo, os níveis de proteção diminuem e se apresentam duas vezes menores, após 6 meses da vacinação. Em alguns grupos, como os doentes renais, por exemplo, este tempo é ainda mais reduzido. Porém, a proteção na população em geral é de aproximadamente 1 anos, motivo pelo qual a vacina é feita anualmente.
• É fundamental a vacinação em gestantes como medida de proteção para a mãe e o bebê. Estudos realizados com acompanhamento de mães vacinadas durante a gravidez demonstrou proteção superior a 60% para a bebê nos 6 primeiros meses de vida. Esta medida, além de proteger a mãe, reduz o impacto da doença em bebês que tem o risco de hospitalização elevado nos primeiros meses de vida.
Crianças conseguem imunidade integral? Por que precisam de duas doses?
A imunogenicidade (resposta imunológica) em crianças varia de 30 a 90% sendo diretamente proporcional a idade;
• Crianças menores de 6 anos: de 40 a 80% apresentam imunidade após uma única dose da vacina.
• Crianças maiores de 6 anos: a taxa sobe para 70 até 100%.
Mais de 50% das crianças menores de 3 anos e aproximadamente 30% das crianças até 9 anos são para o vírus influenza soronegativas (nunca entraram em contato com o vírus). Tal fato explica a recomendação de 2 doses da vacina influenza na primeira vacinação e uma dose nos anos seguintes. Isso porque no caso de contraírem o vírus ele seria mais agressivo justamente pelo corpo ainda não ter adquirido nenhum tipo de imunidade. Leia o artigo complementar: Por que meu filho em idade escolar costuma pegar vários tipos de infecções na escola?
Conteúdo exclusivo do livro Medicina Mitos e Verdades (Carla Leonel). Capítulo de infectologia. Médico responsável: Prof. Dr. Vicente Amato Neto (Prof. Titular Emérito do Departamento de Doenças Infecciosas da Faculdade de Medicina - USP).
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