Alergia ao glúten: doença celíaca pode provocar a morte

Alergia ao glúten: doença celíaca pode provocar a morte

O que é a alergia ao glúten (doença celíaca)?
A doença celíaca é decorrente da intolerância intestinal ao glúten e atinge a parte absortiva do intestino delgado. É uma doença autoimune, grave, pois compromete a absorção de todos os nutrientes essenciais ao organismo, tais como, vitaminas, minerais, carboidratos, proteínas e gorduras. Leia também: O que são doenças autoimunes

Como se manifesta a alergia ao glúten?

Memo se o paciente sendo portador da doença celíaca, caso não coma glúten, nada acontece em seu corpo. O processo é desencadeado apenas após o consumo do glúten. É depois da ingestão de glúten que o sistema imunológico altera a função de defesa, e produz anticorpos que atacam o próprio intestino do paciente, destruindo a mucosa intestinal - veja a ilustração.

“No processo normal de absorção, os alimentos são degradados e absorvidos. A pessoa com doença celíaca tem diarreia constante e evacua o que come antes de o organismo fazer a absorção. As fezes também se tornam líquidas por aumento da excreção de água e de eletrólitos (cloro, potássio e magnésio),” explica o gastroenterologista Prof. Dr. Luiz Chehter, autor do capítulo de gastroenterologia do livro Medicina Mitos e Verdades (Carla Leonel).

Desta forma, qualquer outro alimento que for consumido é mal absorvido pelo corpo, pois a área intestinal inflamada reduz a absorção dos alimentos. É comum quadros de anemia pela absorção insuficiente de ferro e ácido fólico (componentes da hemoglobina, que forma o glóbulo vermelho) e a osteoporose pela má-absorção de cálcio (mineral que dá consistência ao osso).

Se a doença não for tratada e o glúten eliminado da dieta, no longo prazo, pode levar o paciente a morte.

O que é o glúten?

O glúten é uma proteína presente em alguns cereais como trigo, cevada, malte, aveia e centeio. Os alimentos em que esses produtos estão presentes devem ser completamente eliminados da dieta porque são tóxicos para portadores da doença celíaca.

Existe uma idade para a manifestação da doença celíaca?

Por se tratar de uma doença autoimune, a doença celíaca surge em pessoas predispostas e pode se manifestar em qualquer momento da vida. Os familiares de pacientes celíacos, os portadores de diabetes tipo I, e pessoas com síndrome de Down são os mais atingidos.

Porém, como a doença é ativada pelo glúten, a manifestação inicial da doença depende da frequência e quantidade de exposição a alimentos com glúten.

A forma clássica da doença celíaca ocorre mais comumente em crianças de 6 meses a 5 anos, meses após a introdução do glúten na dieta. Os sintomas característicos são diarreia crônica, perda de peso e distensão abdominal. Também costuma ser diagnosticada com frequência no adulto jovem. Alguns pacientes evoluem com poucas manifestações, e só após os 60 anos desenvolvem quadros de diarreia podendo levar à grave desnutrição.

Estudos revelam que há uma prevalência maior entre as mulheres, na proporção de 3 mulheres para cada homem. Por ter um componente hereditário, parentes de primeiro grau de celíacos devem ser submetidos ao teste sorológico para detecção da doença.

Calcula-se que no Brasil existem 2 milhões de pessoas com doença celíaca e grande parte ainda sem diagnóstico.

Pode existir doença celíaca sem sintomas?

Sim. Indivíduos assintomáticos, mas com anemia ou osteoporose (ou osteopenia) devem ser investigados, pois podem estar apresentando consequências da má-absorção de ferro e cálcio.

Quais os sintomas e sinais que sugerem a doença celíaca?

Algumas vezes a doença celíaca não apresenta sinais que possam identificá-la por ser desencadeada apenas após o consumo frequente do glúten. Se a pessoa ingere pouco glúten ou não consome frequentemente, o quadro de diarreia e vômitos, se ocorrer, pode ser interpretado como intoxicação alimentar. Leia também: causas da diarreia
É a constância do consumo do glúten que estimula o sistema imunológico e ativa a doença. Diarreia por mais de 3 semanas necessita de investigação.

O paciente pode apresentar apenas um ou vários dos sintomas descritos abaixo:

1.Diarreia,

2.Vômitos,

3.Dor abdominal,

4.Distensão abdominal,

5.Prisão de ventre prolongada,

6.Desnutrição e déficit de crescimento,

7. Estatura baixa,

8.Falta de apetite,

9.Emagrecimento,

10.Anemia,

11.Osteoporose,

12.Mancha nos dentes,

13.Esterilidade,

14.Abortos de repetição,

15.Depressão,

16. Irritabilidade.

Qual é a associação entre infertilidade e a doença celíaca?

As mulheres com doença celíaca não tratada costumam ter mais irregularidades menstruais, dificuldade para engravidar e manter a gestação. O índice de aborto também é maior.

Como é feito o diagnóstico?

O diagnóstico é feito a partir de anticorpos detectados no sangue e biopsia da mucosa do intestino que mostra importante atrofia e inflamação.

Segundo a Federação Brasileira de Celíacos, a confirmação do diagnóstico é feita em 3 etapas:

1.Suspeita clínica;

2.Teste sorológico positivo: O teste sorológico indicado de rotina para o rastreio da doença é o anticorpo anti-transglutaminase. Quanto maior o nível sérico do anticorpo, maior a chance do indivíduo ser de fato celíaco, e vice e versa. Lembrar que a presença do anticorpo não define se o indivíduo é doente.

3.Após a positividade do teste, deverá ser realizada a biopsia por endoscopia e a biopsia deve analisada por patologista com experiência.

Apenas após a realização da biopsia e a confirmação dos achados histopatológicos, o glúten deverá ser retirado da dieta. No paciente com doença confirmada, a retirada do glúten deve ser total, uma vez que mínimas quantidades de glúten podem ativar a resposta imune, mantendo a inflamação e trazendo consequências.

A retirada do glúten deve, idealmente, ser seguida por nutricionista, devendo-se ter o cuidado para orientar a introdução de alimentos seguros, sem glúten, de forma a manter a alimentação equilibrada e causar menos impacto nutricional e emocional na vida da criança.

Qual o tempo necessário para recuperação da mucosa após iniciar dieta sem glúten?

Após suspensão do glúten da dieta, a recuperação da mucosa inicia-se imediatamente, mas o tempo para o total restabelecimento anatômico da mucosa leva vários meses (1 a 2 anos em média).

Como é feito o tratamento?

O único tratamento é uma alimentação sem glúten por toda a vida. A pessoa que tem a doença celíaca nunca poderá consumir alimentos que contenham trigo, aveia, centeio, cevada e malte ou os seus derivados (farinha de trigo, pão, farinha de rosca, macarrão, bolachas, biscoitos, bolos e outros). A doença celíaca pode levar à morte se não for tratada.

Existe algum medicamento para tratar a doença celíaca?

Não. O tratamento é somente a dieta. Quando o glúten é totalmente eliminado da dieta, ocorre recuperação integral, o intestino volta ao normal e revertem-se todas as alterações ocorridas. Entretanto, é fundamental repor os nutrientes que estão em níveis baixos. Leia o artigo completo: Doença celíaca, o que pode comer e o que é proibido

Com o controle dietético os exames laboratoriais apresentam-se normais?

Sim, todos os nutrientes voltam aos níveis normais, os anticorpos se tornam negativos e a mucosa intestinal volta a apresentar seu aspecto anatômico habitual após alguns meses (às vezes anos) de dieta sem glúten.

O que acontece se o paciente com doença celíaca consumir glúten?

A doença retorna toda vez em que ocorre reexposição ao glúten, mesmo que seja em pequena quantidade. Doença celíaca está associada à neoplasia (câncer e linfoma intestinal), que ocorre, principalmente, nos que não aderem às orientações dietéticas.

A doença celíaca pode ser considerada uma alergia alimentar?

A alergia alimentar é uma reação rápida do sistema imunológico que produz anticorpos (imunoglobulina E) contra alguma substância estranha (antígeno). Os anticorpos circulantes é que causam a reação alérgica.

Na doença celíaca existe uma reação imunológica tardia. Não é considerada alergia alimentar.

Leia o artigo complementar:
Diferença entre alergia e intolerância alimentar

Categoria de gastroenterologia. Médico responsável Prof. Dr. Luiz Chehter