Tipos de remédios para emagrecer: como agem no organismo?

Tipos de remédios para emagrecer: como agem no organismo?

Remédios sempre parece ser a opção mais rápida para quem quer emagrecer. Mas até que ponto este é o melhor caminho? Quais os riscos deste tipo de medicação? Se eu apenas “fechar a boca” consigo emagrecer? Em alguns casos, pode ser que sim. Em outros, torna-se praticamente impossível, seja por problemas de estilo de vida, estado emocional ou desequilíbrios relacionados ao organismo. A obesidade crônica é uma doença e deve ser tratada como tal. Os remédios não devem ser considerados uma mera futilidade em busca de um corpo bonito. Nestas situações, não se trata de estética, e sim de saúde.

Os riscos para os obesos refletem não apenas na qualidade, como no tempo de duração da vida. As doenças agravadas ou associadas à obesidade são gigantescas. Vão desde doenças cardíacas, vasculares, respiratórias, digestivas, renais, hormonais, nas juntas, nos músculos, na pele até a maior incidência de alguns tipos de cânceres. Fora isso, altera a função sexual e reprodutora, além de provoca distúrbios psicológicos e sociais. Será que você está obeso? Você poderá conferir seu real estado, no artigo Quando uma pessoa é considerada obesa

Independente do sucesso do emagrecimento ser auxiliado por medicamento, o remédio por si só não faz mágica. Para isso é necessário que a ingestão de calorias seja sempre menor que o gasto calórico. As drogas usadas para combater obesidade ajudam neste processo, seja atuando no controle do apetite, na saciedade ou na diminuição da absorção de gordura.

Abaixo a entrevista com o médico Prof. Dr. Alfredo Halpern, responsável pela categoria de endocrinologia do site Medicina Mitos e Verdades. Confira os tipos de remédios para emagrecer, além dos riscos e indicações das medicações para o tratamento da obesidade. Saiba também, quais são as substâncias proibidas e as permitidas, e os efeitos colaterais.

Você vai ler nesta entrevista:
1. Os remédios para emagrecer têm efeitos colaterais?
2. Lista de remédios e substâncias para emagrecer retiradas do mercado
3. Lista de medicamentos aprovados pela ANVISA
4. Por que as anfetaminas são perigosas? Quais os riscos e consequências para quem faz uso indevido desta substância?
5. Qual a diferença entre os remédios inibidores de apetite e os que agem promovendo a sensação de saciedade?
6. Como os neurotransmissores regulam o controle da fome?
7. E como agem atualmente os remédios para emagrecer? Quais os efeitos colaterais?
8. Como age o Victoza? Quais os riscos desta medicação já que é indicado apenas para diabéticos?
9. Em que situação deve-se optar pela cirurgia de redução do estômago como método de emagrecimento? Quais os prós e contras desta opção?
10. Se o medicamento para tratar a obesidade não pode ser receitado a longo prazo, como tratar a obesidade crônica?

1. Os remédios para emagrecer têm efeitos adversos?

Claro que sim. E também é variável de pessoa a pessoa e do medicamento escolhido. Mas, pesando os riscos dos medicamentos contra seus benefícios, ou seja, a possibilidade de evitar as sérias complicações crônicas desencadeadas pela obesidade, muitas vezes para o obeso, só resta à alternativa da medicação.

Tenha como exemplo uma pessoa que sofre de hipertensão arterial. Ela não pode ter pressão alta por muito tempo sob o risco de graves consequências para o organismo. A princípio, pode-se tentar fazer com que o hipertenso seja tratado com modificações no estilo de vida: diminuir o sal das refeições, combater o estresse, fazer atividades físicas, perder peso e, por vezes, isto já basta. Porém, se com essas medidas não conseguirmos um resultado positivo (a normalização da pressão) será indispensável aderir à medicação anti-hipertensiva.

O mesmo acontece com uma pessoa adulta que passa a apresentar níveis de açúcar elevado no sangue - diabetes mellitus. Em boa parte dos casos, pode-se obter resultado muito satisfatório com dieta, perda de peso, atividade física etc. Caso contrário, teremos que usar medicação.

Eu poderia citar muitos exemplos de pessoas que apresentam algum tipo de doença que podemos tentar tratar com modificações no estilo de vida, porém, ou não o conseguem, ou esta modificação não atinge resultados satisfatórios. Nestas situações seremos então, obrigados, a apelar para o uso de remédios.

Vejo frequentemente médicos sérios, por exemplo, dizerem em alto e bom som, inclusive através da mídia, que os remédios inibidores do apetite deveriam ser abolidos, porque podem causar arritmias cardíacas, por exemplo. Aí respondo: então os remédios utilizados para o tratamento das doenças cardíacas ou renais, etc. deveriam ser abolidos, porque também podem causar arritmias cardíacas! Tudo é questão de bom senso e de conhecimento científico.

Muitas drogas já foram usadas para o tratamento da obesidade. O abuso desenfreado e exagerado na utilização dos medicamentos sempre foi indiscutível e lamentável. Tínhamos a inglória posição de líderes mundiais do consumo de anfetamínicos: cerca de 60% da produção mundial de um medicamento chamado femproporex era consumido no Brasil.

Felizmente, o Ministério de Saúde e as sociedades médicas (incluindo-se particularmente aqui a ABESO - Associação Brasileira para Estudos de Obesidade - e a SBEM - Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia) estão sempre atentos e tomando medidas para diminuir os abusos a cada dia.

Em 2011, a Anvisa retirou do mercado três substâncias inibidoras de apetite do tipo anfetamínicos (mazindol, femproporex e anfepramona) para o combate da obesidade. Os laboratórios que tinham registro desses produtos no Brasil não apresentaram estudos de eficácia e segurança dentro dos padrões exigidos pela Anvisa e exigidos em outros países do mundo. Além disso, uma revisão da literatura científica apontou que os riscos relacionados ao uso de inibidores de apetite do tipo anfetamínicos eram maiores que o seu benefício.

2. Veja a lista das substâncias e medicamentos retirados do mercado, os que são permitidos, e sua situação no mundo:

Os três medicamentos abaixo tiveram seus registros cancelados por falta de apresentação de estudos de eficácia e segurança atualizados. Ou seja, nenhum fabricante conseguiu comprovar os benefícios de seu uso.

Anfepramona

Começou a ser utilizada em 1997. Vendida nos EUA. Não é aprovada na Europa.

Femproporex

Não é aprovado nos EUA e foi proibido na Europa em 1999.

Mazindol

Não é aprovado nos EUA e não está disponível na Europa.

3. Medicamentos aprovados no Brasil para tratar a obesidade (por nome da substância). Na questão 7 falaremos de cada um deles.

Sibutramina

É o medicamento emagrecedor com registro válido mais antigo no Brasil. Foi registrado em março de 1998. São 13 fabricantes que tem registro e autorização para produzi-lo. Há 22 sibutraminas disponíveis no mercado brasileiro.

• Orlistat

Chegou ao Brasil no final dos anos 90. Hoje é produzido por 10 laboratórios, com pelo menos 22 registros diferentes do produto em comercialização.

• Cloridrato de lorcasserina

Registrado em 2016, está no mercado com o nome comercial de Belviq, registrado pelo laboratório Eisai.

• Liraglutida

Registrada no início de 2016, é uma formulação injetável e está no mercado com o nome comercial de Saxenda, registrado pelo laboratório Novo Nordisk.

4. Por que as anfetaminas são perigosas? Quais os riscos e consequências para quem faz uso indevido desta substância?

A anfetamina é uma droga que foi bastante utilizada no passado como estimulante do sistema nervoso. Muitas pessoas na casa dos 50 anos devem se lembrar de como os estudantes tomavam “bolinhas” (Pervitin, Dexamil, Dexedrine. etc) para se manterem acordados, para conseguir estudar para as provas, inclusive “varando a noite”. Pois esta mesma anfetamina, que “acendia” as pessoas, fazia também com que elas tivessem uma diminuição do apetite, razão pela qual foi utilizada durante um tempo para esta finalidade.

Acontece que as reações colaterais da anfetamina eram frequentes e intensas, com desenvolvimento de alterações psíquicas, tremores, taquicardia, hipertensão arterial etc. Assim sendo, as contraindicações eram muitas, além do fato da dependência à droga ser frequente. Por este motivo, foi retirada do mercado mundial.

Sabedores do efeito das anfetaminas para suprimir a fome, mas também dos seus riscos, as indústrias farmacêuticas tentaram, e conseguiram, desenvolver outros produtos, derivados da anfetamina (chamados anfetamínicos. É o caso do d-fenfluramina, que é um derivado da anfetamina, mas com ação diferente dos anfetaminicos tradicionais.

Esse tipo de medicamento possuía muito menos quantidade e intensidade de efeitos colaterais, embora ainda os tivesse, como qualquer medicamento para tratar a obesidade. Além disso, o espectro da anfetamina ainda continuava a pesar sobre a utilização destes medicamentos.

Também surgiu a Fluoxetina, que é, primordialmente, um antidepressivo e que atua bem em muitos casos de obesidade: por meio da serotonina, age no centro da saciedade, estimulando-a.

Nota-se que foi havendo uma tendência e uma diminuição na utilização dos anorexiantes que diminuem a fome, para o aumento da utilização das drogas que aumentam a saciedade. Isto porque, entre outras razões, ter fome é um instinto natural da sobrevivência. O mais razoável é fazer com que a pessoa apenas coma em menor quantidade e não deixe simplesmente de se alimentar.

5. Qual a diferença entre os remédios inibidores de apetite e os que agem promovendo a sensação de saciedade?

Muitos estudos sobre a serotonina ajudaram a esclarecer os mecanismos de fome e de saciedade, como também as inter-relações entre o comer e a psique. Mas o principal é em relação aos efeitos adversos com os anorexiantes clássicos que são muito mais fortes e intensos em comparação com as substâncias que atuam para aumentar a saciedade. Em relação aos efeitos negativos dos inibidores de apetite, já falamos na questão acima. Agora vamos focar no efeito positivo dos medicamentos que aumentam a saciedade e explicar como o distúrbio da obesidade está relacionada a serotonina, um neurotransmissor na região do hipotálamo.

Exemplo: pessoas com nível de serotonina baixa no cérebro ficam ou depressivas, ou melancólicas, ou mal-humoradas. É possível que estas sejam formas diferentes de um mesmo distúrbio. Ao mesmo tempo, níveis baixos de serotonina determinam a diminuição de saciedade e, em particular, uma voracidade, uma vontade desenfreada, por comer doces.

A ingestão de açúcar, por outro lado, restaura os níveis de serotonina e diminui aquela sensação desagradável no humor. Isto é: uma mesma substância, a serotonina, parece ser responsável pela sensação de “bem-estar” e de saciedade. A sua queda determina necessidade pessoal de comer açúcar que restaura o “bem-estar”. Mesmo seguido de “culpa” após devorar várias barras de chocolate ou biscoitos.

Conclusão: se dermos uma substância que eleva os níveis de serotonina no hipotálamo, como a D-Fenfluramina (Isomeride, Fluril) ou a Fluoxetine (Prozac, Eufor, Daforin), substituiremos o açúcar na função de restabelecer os níveis de serotonina e, portanto, diminuiremos a compulsão alimentar e restauraremos o bom humor. Melhor assim, não é?

O Bupropriona antidepressivo usado também para quem quer parar de fumar age inibindo a receptação da serotonina, diminuindo o apetite.

Naltrexona, medicamento anticonvulsionante, em dose baixa, também também tem efeito inibidor de apetite.

Outros exemplos de interação entre estado psíquico com alimentação são a tensão pré-menstrual e a doença afetiva sazonal.

A tensão pré-menstrual provoca mudanças de temperamento e, é indubitavelmente, uma alteração real do organismo, e não somente um quadro psíquico. Entre as constatações é a diminuição dos níveis de serotonina, e é fato mais do que estabelecido, que a compulsão alimentar predomina na fase pré-menstrual.

Já a doença afetiva sazonal acomete mulheres que vivem em regiões nas quais as estações do ano são mais frias e mais escuras e que leva a baixos níveis de serotonina no cérebro.Desta forma é mais frequente o quadro depressivo, com um ganho de peso associado à compulsão alimentar, particularmente, por doces.

As descobertas em níveis de neurotransmissores e associação entre fome, saciedade, distúrbio do hábito alimentar e alterações psíquicas vêm se desenvolvendo de uma forma extraordinária. Demos todos esses exemplos para o leitor entender que o que chamamos de “comer muito”, “comer pouco”, “falta de força de vontade para comer menos” etc, não obedece a princípios tão simples como habitualmente se pensava.

É necessário dizer que, mesmo os indivíduos obesos que comem muito talvez tenham uma desregulação no seu sistema de neurotransmissão, à semelhança do que está sendo descoberto em inúmeras doenças psíquicas, às quais anteriormente, se atribuía somente uma origem ambiental. É provável que o caminho para mantê-las “equilibradas” seja, como em muitas destas doenças psíquicas (depressão, mania, pânico etc), a utilização de medicamentos.

6. Como os neurotransmissores regulam o controle da fome?

Existe uma série de substâncias chamadas de neurotransmissores que atuam no hipotálamo, determinando sensações de fome e de saciedade. Os 3 tipos principais são a noradrenalina, a dopamina e a serotonina.

• A noradrenalina e a serotonina agem de maneira antagônica em receptores no centro de saciedade.
Receptores são regiões na célula que integram o sinal emitido pela substância. Seriam, mal comparando, como uma campainha de uma casa sendo apertada por alguém para anunciar sua presença.
• Os receptores estimulados pela noradrenalina determinam a diminuição da sensação de saciedade, portanto fazendo o indivíduo comer mais.
• Já os receptores estimulados pela serotonina estimulam e fazem aumentar a saciedade, isto é, dando ordens para cessar a refeição.

No hipotálamo dorso-lateral (centro da fome), a mesma noradrenalina que age no centro de saciedade diminuindo-a, atua no sentido inverso, isto é, estimula a fome através de outros receptores, fazendo com que a pessoa coma menos.

A dopamina tem ações diferentes em relação a sua concentração e em relação a região em que atua, mas seu efeito é semelhante à da noradrenalina no hipotálamo dorso-lateral, fazendo diminuir a sensação de fome.

7. E como agem os remédios atuais? Quais os efeitos indesejáveis?

Cada caso é um caso e cada organismo é único. Enquanto um tipo de remédio pode ser bom para uma pessoa, em outra pode ter efeitos adversos mais graves. A Sibutramina (a mais antiga das medicações atuais), por exemplo, aumenta a frequência cardíaca e desta forma esta contraindicada a pacientes cardíacos. Já a lorcaserina tem efeitos colaterais menor que outros similares, mas pode não ter o mesmo índice de sucesso em todos os pacientes. Conheça as medicações usadas atualmente para o emagrecimento:

Sibutramina

A sibutramina é um fármaco com mecanismo diferente da d-fenfluramina e d-anfetamina utilizada no passado. Seu mecanismo de ação justifica a inclusão da sibutramina na categoria de medicamentos inibidores seletivos da receptação da serotonina e noradrenalina.

Esta substância ajuda no controle da fome promovendo a sensação de saciedade. Apesar dos efeitos colaterais serem menores do que as anfetaminas do passado, mesmo assim, como qualquer medicação, também se faz presente.

Efeitos colaterais do Cloridrato de Sibutramina (substância ativa)

• Boca seca,

• Insônia,

• Prisão de ventre ou diarreia,

• Taquicardia, palpitação,

• Aumento da pressão arterial,

• Ansiedade,

• Alteração do paladar,

• Sudorese,

• Náuseas,

• Tontura,

• Visão turva,

• Retenção urinária,

• Ejaculação anormal (orgasmos),

• Dificuldade de ereção,

• Distúrbios do ciclo menstrual, sangramento excessivo fora do ciclo.

Lorcaserina

De forma semelhante a sibutramina, o Lorcaserin age através da ativação de receptores específicos no hipotálamo, principalmente, a serotonina.

A serotonina ajuda na regulação do apetite e está associada ao mecanismo de recompensa do cérebro. Ela atua como inibidor de apetite, na sensação de saciedade e aceleração do metabolismo.

Quem faz uso de antidepressivo ou medicamentos para tratar ansiedade, transtornos psicóticos, assim como remédios para enxaqueca ou disfunção erétil deve ter cautela com interação medicamentosa. Informe ao seu médico todos os remédios de uso frequente que você utiliza, antes de iniciar o tratamento com Lorcaserina.

Aqui, os efeitos colaterais podem ser semelhantes aos já descritos no uso da sibutramina, porém, em menor intensidade, por atuar apenas nos receptores do cérebro. A sibutramina, por exemplo, provoca o aumento da frequência cardíaca com muito mais frequência. Veja que conforme vão surgindo novos medicamentos, os efeitos colaterais vão reduzindo.

Liraglutida (Saxenda)

Este medicamento é de uso injetável. Tem ação tanto no aparelho digestório, como no sistema nervoso central. É um análogo de GLP-1, (hormônio que reduz a motilidade do estômago) e, desta forma, o esvaziamento do estômago se torna mais lento. Também potencializa a ação da insulina

Antes do Saxenda ser lançado no Brasil para o tratamento da obesidade, o mesmo princípio ativo (liraglutida) já era usado por pessoas que queriam perder peso rápido. O remédio que ainda existe, leva o nome de Victoza, e é indicado apenas para tratar o diabetes mellitus tipo 2. Depois de muita polêmica e uso irregular (não tinha indicação na bula como medicamento anti-obesidade), o mesmo laboratório lançou com aprovação da ANVISA o Saxenda. Porém, também existe restrições e está indicado apenas para pacientes com obesidade crônica (IMC maior que 30) ou para ou ICM maior que 27 caso tenha pelo menos uma doença associadas a obesidade, como por exemplo, diabetes, hipertensão ou colesterol elevado.

O Saxena promove a sensação de saciedade, porém com muito menos efeitos colaterais, sendo a náusea o efeito adverso mais evidente.

Diabéticos podem precisar de ajuste na medicação de rotina, para evitar a hipoglicemia com o uso concomitante de Liraglutida, pois ambos estimulam a ação da insulina.

Leia o artigo: causas e consequências da hipoglicemia

Já foram relatados alguns casos de pancreatite aguda pelo uso deste medicamento. Neste caso, é necessária a interrupção do tratamento.

Orlistat - impede a absorção da gordura

Orlistat é o famoso Xenical que atua reduzindo até 30% na absorção da gordura dos alimentos. A gordura captada pelo medicamento é eliminada junto com as fezes, não sendo depositada no tecido gorduroso.

O medicamento não atua no sistema nervoso e nem na corrente sanguínea, limitando sua atuação ao sistema digestório. A ação acontece apenas no tubo digestivo, inibindo a lipase que é a enzima responsável pelo processo de absorção dos triglicerídeos no organismo. Da mesma forma, não elimina a fome, e nem intervêm na saciedade.

Como efeito colateral pode ocorrer diarreia e urgência para evacuar. Flatulências também são previsíveis, com risco de eliminação de resíduos de gordura, na cor laranja (podendo vazar na roupa). Apesar de provocar algumas situações constrangedoras, tem a vantagem de não causar dependência. Também traz benefícios a pacientes com diabetes e hipertensos, pois diminui as taxas de glicose no sangue e do colesterol ruim.

Quem tem tendência a cálculo biliar deve ficar atento. A medicação aumenta as chances de desenvolver pedra na vesícula.

8. Como age o Victoza? Quais os riscos de quem fez uso desta medicação já que é indicado apenas para diabéticos?

Tanto o Victoza como o Byetta (este mais antigo) são medicamentos aprovados para o diabete, porém ajudam também no processo de emagrecimento. Seu mecanismo de ação simula o de um hormônio natural produzido no nosso intestino, chamado GLP1, que estimula a produção de insulina pelo pâncreas. Eles são utilizados em uma dose muito maior da que é fabricada pelo organismo, razão pela qual são medicamentos muito eficientes no controle da glicemia.

Além disso, são remédios que, em geral provocam perda de peso, pois diminuem a ingestão alimentar e, por esta razão, também beneficiam os diabéticos com excesso de peso.

A ação dos medicamentos no apetite se dá no estômago (retardando seu fechamento) e no cérebro, diminuindo a vontade de comer. Aumenta a sensação de saciedade, a digestão fica mais lenta e a pessoa demora a sentir fome.

Esta ação na perda de peso pode ser útil também em obesos não diabéticos, mas, nestes casos, não há aprovação em bula para os medicamentos, o que no passado era usado em casos selecionados e sob supervisão médica.

Em minha experiência, 85% dos indivíduos que recebem o Victoza antes da existência do Saxena, perderam peso com sucesso. Isso significa, que agora com o Saxena já aprovado para esta finalidade, os resultados serão semelhantes.

9. Em que situação deve-se optar pela cirurgia de redução do estômago como método de emagrecimento? Quais os prós e contras desta opção?

Em casos excepcionais, nos quais nenhum tratamento levou a uma redução significativa de peso, existe a opção da cirurgia no tubo digestivo, que leva a perda de 25% a 45% do peso inicial, dependendo da técnica.Evidentemente, a grande vantagem desse procedimento é uma acentuada perda de peso que, em geral, é mantida.

A grande desvantagem, além do risco cirúrgico (muito pequeno, em boas mãos), é a adaptação a um novo estilo de vida, com limitações na capacidade do estômago (na cirurgia mais utilizada que é a técnica de Capella) ou na capacidade de absorver alimentos (na chamada derivação biliopancreática) e a necessidade de tomar vitaminas e minerais por toda a vida. Leia os artigos:
Cirurgia bariátrica: riscos e indicações
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10. Se o medicamento para tratar a obesidade não pode ser receitado a longo prazo, como tratar a obesidade crônica?

Devo admitir que sou a favor do uso de medicamentos para o tratamento da obesidade (repito, de alguns tipos de obesidade), quando comparado a doenças como a hipertensão arterial ou diabetes mellitus.

Mas ainda há um grande problema: tanto os hipertensos, como os diabéticos possuem a seu dispor um bom número de drogas que realmente são atuantes e, em geral, controlam o problema. No caso dos indivíduos obesos não têm ainda para seu uso um arsenal muito grande de drogas. A variedade com que contamos para a escolha da droga apropriada é ainda pequena para o tratamento a longo prazo.

Em outras palavras: dada a dimensão e a extensão do problema que é a obesidade, contamos ainda com poucos medicamentos para o seu tratamento crônico; portanto os estudos com o uso prolongado são ainda muito escassos.

Neste sentido, e sabendo deste fato, dezenas de centros de pesquisas do mundo inteiro estão tentando produzir substâncias que possam auxiliar ou resolver o problema da obesidade, inclusive testando novas substâncias termogênicas.

Finalmente, só para exemplificar a importância que se dá ao assunto nos centros mais desenvolvidos cientificamente, estão sendo procurado incessantemente através de estudos de biologia molecular os gens responsáveis por alguns casos de obesidade, para que sua manipulação, através de engenharia genética, possa levar ao fim do problema!

Da mesma forma ressalto e realço aqui o cuidado em ingerir “medicamentos milagrosos” para emagrecer que são divulgados pela internet por pessoas inescrupulosas. Não acredite. Não compre. Sua saúde e sua vida estão em jogo.

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