Tipos de meningite infecciosa
Existem várias formas de meningite. No artigo anterior explicamos as causas da meningite não infecciosa. Agora vamos falar das meningites infeciosas levando-se em conta principalmente o agente infeccioso envolvido. Tirando a meningite viral, quase todas as meningites infecciosas são graves e colocam a vida em risco. É fundamental o diagnóstico precoce para início imediato do tratamento. Conheça as diferenças dos tipos de meningite infecciosa e os agentes envolvidos:
Meningite por Vírus
São meningites de caráter mais benigno, com boa evolução. O diagnóstico é feito baseando-se no achado de linfócitos (um tipo de glóbulo branco) no líquido cefalorraquidiano. Um dos principais vírus causador deste tipo de meningite é Enterovírus. A transmissão é semelhante ao vírus da gripe mas pode ocorrer também por água ou alimento contaminado. O período de encubação até o aparecimento dos sintomas varia de 7 a 14 dias. É mais frequente no fim do verão e começo do outono. Outros vírus que podem causar meningite: Paramixovírus, Flavivírus, Herpesvírus, Togavírus, Adenovírus, Rabdovírus.
Meningite por Fungos
Causam meningites de evolução subaguda (ou seja, pode permanecer por vários meses). No diagnóstico, a sua diferenciação com a meningite causada por vírus se baseia no isolamento do agente e no achado de baixas taxas de glicose na análise do líquido cefalorraquidiano . Na meningite por fungos não há transmissão entre pessoas.
O fungo mais comum deste tipo de meningite é o Cryptococcus neoformans, encontrado em fezes de pássaros, principalmente pombos, apesar de também poder estar presente no solo, frutas ou vegetais. Este fungo quando inalado pode ir para o sistema nervoso central e inflamar as meninges. Pessoas com doenças que diminuem a defesa do organismo como portadores de AIDS, câncer, diabetes, doença renal crônica e doenças autoimunes são as mais atingidas por este tipo de meningite. Como prevenção é fundamental lavar muito bem as mãos após mexer no solo ou em animais.
Meningite por Protozoários
Este tipo de meningite é muito raro. Existem pouquíssimos relatos de meningite por amebas de vida livre e quando ocorre, costuma ser fatal. Este tipo de amebas são encontradas em lagos e rios de água quente. A contaminação é possível quando a pessoa entra nesses lagos contaminados e engole sua água.
Meningite por Helmintos
Existe uma enorme incidência em nosso meio da cisticercose (parasitose por cisticercos, a forma larval de um verme intestinal- teníase) que atinge as meninges provocando a meningite. A cisticercose é adquirida através da carne de porco ou por água/alimentos contaminados pelo cisticerco. Este tipo de meningite ocorre com mais frequência na zona rural.
Meningite por Bactérias
Causadas por bactérias. Sejam de caráter agudo (meningite meningocócica, meningite pneumocócica) ou subagudo (tuberculose), são meningites graves e que, se não forem rapidamente detectadas e tratadas rapidamente pode levar ao óbito. Atualmente é possível a prevenção para alguns tipos de meningite bacteriana por meio de vacina. São elas:meningococos, pneumococos e Haemophilus.
A meningococos é que tem transmissão mais fácil conforme descreveremos abaixo. Apesar de existir a vacina contra meningococos, existe treze grupos dessa bactéria e não são para todos que a vacina consegue a imunidade. Já para a pneumococos e a Haemophilus a vacina é muito eficiente.Do grupo de meningites meningocócicas, as causadas pela bactéria neisseria meningitidis é um dos tipos mais grave. Costuma deixar sequelas, além de ter grande capacidade de causar infecções endêmicas e epidêmicas. Pode causar convulsões e confusão mental e as sequelas vão desde perda da linguagem até falta de memória.
A meningite também pode ser contraída por contaminação através de orifícios ocorridos nos envoltórios do sistema nervoso central (meningites pós-operatórias, meningites pós-traumáticas) ou através da circulação dos germes a partir de um outro foco infeccioso no organismo (infecção urinária não tratada, endocardite infecciosa etc). Conheça abaixo um pouco mais sobre a meningite meningocócica e a Haemophilus que são os tipos mais comuns de meningite bacteriana.
Meningite Meningocócica
• Características: doença meningocócica de caráter infectocontagioso que acomete predominantemente crianças acima de 6 meses de idade. Possui caráter endêmico e ocorre em todo o mundo.
• Sintomas: febre alta, vômitos, rigidez dos músculos da nuca. Na pele provoca lesões tipo petéquias (pequenos vasos que sangram próximos a pele deixando pequenas marcas parecendo sangue pisado) e equimoses (manchas na pele, de cor roxa/vinho, que indicam sangramento).
• Incubação: varia de 2 a 10 dias.
• Transmissão: contato direto, através de secreções nasofaríngeas de pessoas sem sintomas da bactéria e de doentes. Após 24 horas de tratamento eficaz, a doença não é mais transmissível.
• Tratamento: administração de antibiótico específico por 7 a 10 dias.
• Isolamento: até 24 horas após o início do tratamento específico.
• Diagnóstico: exame da amostra do líquido cefalorraquidiano (líquido da medula, "espinha") e do material obtido nas lesões da pele. Outro exame que deve ser colhido é a cultura do sangue (hemocultura).
• Complicações: no período de vigência da doença pode ocorrer convulsão. Na convalescença podem ocorrer alterações na visão e audição, e no grau de intelectualidade.
• Prevenção: evitar aglomerações durante os períodos epidêmicos, arejar o ambiente e vacinar-se. Hoje dispomos de excelente vacina para prevenção do meningococo tipo C. Recentemente foi lançada a vacina conjugada contra o meningococo tipo A, C, Y e W135, indicada para adolescentes. Felizmente, já dispomos de vacina adequada para o meningococo B.
• Vacinas: A vacinação contra o meningo C deve ser feita a partir de 3 meses de vida, sendo 2 doses no 1º ano, e um reforço a partir de 1 ano de idade. Crianças, adolescentes e adultos que iniciam a vacinação após 1 ano de idade, a proteção é alcançada com dose única da vacina meningocócica C conjugada.
- Em relação ao meningococo tipo A, este é bem mais raro no Brasil, sendo endêmico em alguns países da Africa. Quando disponível a vacina quadrivalente contra o meningococo, esta poderá ser indicada para adolescentes que já haviam recebido a vacina contra o meningococo C.
Haemophilus influenzae tipob (Hib)
• Características: é uma bactéria importante na causa de meningite, epiglotite, entre outras manifestações. Ocorre predominantemente na infância, em crianças menores de 5 anos. Antes da vacinação rotineira, o pico da doença ocorria entre 6 e 18 meses de vida. Com o advento da vacinação, praticamente não vemos mais casos de meningite causada pelo Hib.
• Incubação: desconhecido.
• Sintomas: pneumonia, bacteremia (infecção generalizada), meningite, infecção da garganta (epiglotite), com febre, calafrios, anorexia, mal-estar, cefaleia, dor de garganta.Pode também causar artrite e infecção no osso (osteomielite).
• Contágio: as crianças funcionam como um “reservatório” carregando a bactéria no trato respiratório. Transmitem a doença pelo contato direto ou por secreções respiratórias (tosse, espirro).
• Transmissão: contato direto por gotículas expelidas do trato respiratório superior de indivíduos infectados. Transmissão pessoa a pessoa.
• Tratamento: tratamento com antibiótico específico. A epiglotite é uma emergência médica, pois pode levar a obstrução do trato respiratório. Deverá sempre ter acompanhamento médico hospitalar.
• Isolamento: até 24 horas após início do tratamento com antibiótico.
• Prevenção: Vacina associada com a vacina tríplice bacteriana (tetravalente) ou também com a poliomielite (pentavalente) ou ainda com a hepatite B (hexavalente). Início da vacinação aos 2 meses de vida, depois aos 4 e 6 meses, com reforço aos 15 meses.
- Para as pessoas que tiveram contato próximo de um paciente comprovadamente infectado, pode-se indicar a prevenção com antibiótico.
• Imunidade: Vacina ou infecção prévia.
Como com saúde não se brinca e prevenir é melhor que remediar. E então, como está sua carteira de vacinação?
Conteúdo do livro Medicina Mitos e Verdades (Carla Leonel). Perguntas e Respostas em 22 especialidades médicas. Capítulo de neurologia. Médico responsável Prof. Dr. Milberto Scaff (Prof. Titular de Neurologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo/FMUSP) e capítulo de Infectologia. Médico responsável Prof. Dr. Vicente Amato Neto (Prof. Titular Emérito de Doenças Infecciosas e Parasitárias da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
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