Por que o Zika Vírus causa microcefalia?

Por que o Zika Vírus causa microcefalia?

Desde 2015, o Zika Vírus assombra as gestantes e mulheres que desejam engravidar. O primeiro surto começou em Pernambuco e se espalhou para outras regiões do nordeste, onde foram registrados, só naquele ano, mais de 1.600 casos de bebês nascidos com microcefalia. Para efeito de comparação, nos 14 anos anteriores, a média anual era de apenas 164 (período 2000 a 2014). Somando o ano de 2015 até 2017, o Brasil notificou 15.298 casos de crianças com anomalias associadas ao Zika. Em 2018, embora com redução de quase 70%, já foi registrado 2.985 novos casos de bebês com microcefalia.

E como prevenir? Existe vacina?
Apesar da vacina contra o vírus da Zika estar em fase experimental avançada (já está sendo testada em voluntários humanos) infelizmente, ainda não está liberada para o uso na população em geral. Por enquanto, a única forma de prevenção é o controle do Aedes aegypti, mosquito transmissor. Por isso, é essencial que todos façam a sua parte. Se cada um agir corretamente e tomar os cuidados para evitar criadouros do mosquito Aedes Aegypti, é possível evitar o Zika Vírus, a microcefalia, a febre amarela, a dengue e a chikungunya. Se você agir e fizer sua parte, é possível evitar! Clique e leia: Febre Amarela pode levar à morte

O que é microcefalia?
A microcefalia é uma malformação congênita, em que o cérebro não se desenvolve de maneira adequada. Neste caso, os bebês nascem com perímetro cefálico (PC) menor que o normal, que habitualmente é superior a 32 cm. Vale esclarecer que essa malformação congênita não necessariamente está associada ao Zika Vírus.

A microcefalia é uma ocorrência antiga na medicina, e pode ser causada também por outros vírus como da rubéola, o citomegalovírus, herpes, sífilis, toxoplasmose, pela exposição à radiação e outras substâncias tóxicas durante a gestação e até por herança genética. Leia o artigo: Doenças na gravidez que provocam mal formação no feto.

De que forma o Zika Vírus causa a microcefalia em bebês?
A ligação entre o Zika Vírus e a microcefalia só foi comprovada após estudos realizados pelo Ministério da Saúde em parceria com diversas universidades e instituições de saúde pública do país. Por meio da análise de crianças nascidas com e sem a má formação, os pesquisadores conseguiram estabelecer uma associação entre o vírus e a doença. Essa também foi a conclusão da Organização Mundial da Saúde (OMS), que passou a reconhecer desde 2016 que a infecção pelo Zika durante a gravidez pode levar a anormalidades cerebrais congênitas, incluindo a microcefalia.

Como o Zika Vírus atinge o crânio do feto?
O vírus passa pela placenta e alcança o tecido cerebral provocando uma desaceleração no crescimento dos neurônios e das células existentes. Essa alteração do crescimento cerebral leva a alteração na taxa de crescimento do osso.

Qual o período mais arriscado para a gestante entrar em contato com o mosquito?
O primeiro trimestre é sempre o mais delicado, e isso em qualquer situação, independentemente do Zika. É neste período que há mais chances de o vírus, seja ele qual for, ultrapassar a barreira placentária. O que indicamos hoje é que as mulheres devem redobrar os cuidados por todo o período de gravidez.

Como as gestantes podem se prevenir? O repelente é o mecanismo mais seguro?
A melhor forma de prevenção, e a mais eficaz de todas elas, é evitar a proliferação do mosquito Aedes Aegypti. O repelente é também um mecanismo muito importante e eficaz de prevenção. A maior parte das marcas comerciais deles é de uma substância que as grávidas podem utilizar. É indicado usar o repelente em áreas mais expostas. Atenção a mãos, pescoço, rosto e todas as áreas que vão ficar mais expostas inevitavelmente nesse período do verão. Aconselha-se a evitar a exposição nos horários de pico do mosquito (amanhecer e anoitecer) e, na medida do possível, usar as barreiras mecânicas, como roupas de manga comprida e calça comprida. Leia o artigo: A forma correta de usar o repelente

Qual a forma de transmissão do Zika Vírus? Quais as sequelas?

Existem três formas principais de transmissão do Zika Vírus:

• Transmissão pela picada do mosquito Aedes Aegypti,

• Transmissão sexual,

• Transmissão de mãe para o feto durante a gravidez.

Como já explicamos, no caso do feto ser infectado durante a gestação, este pode desenvolver lesões cerebrais irreversíveis e ter comprometida, definitivamente, toda a sua estrutura em formação. As doenças neurológicas, especialmente nas crianças com a doença congênita (infectados no útero materno), têm sequelas de intensidade variável, conforme cada caso.

Não há evidências de transmissão do vírus Zika por meio do leite materno, assim como por urina e saliva.

Existe a chance de ser surpreendido pela microcefalia do bebê só após o nascimento?
Sim. Se o contato com o vírus acontecer depois do segundo trimestre da gravidez pode não haver tempo suficiente para aparecer na ultrassonografia. Muitas vezes, somente após a 30ª, 32ª semana é que objetivamente pode começar a ver indícios da microcefalia, quando a mulher, por exemplo, é infectada com dois meses, dois meses e meio de gestação, o que seria aproximadamente 10 a 12 semanas. E quando existe calcificações é indício de que essa infecção aconteceu bem no início da gestação. Além da microcefalia, o exame de ultrassonografia é capaz de identificar outras malformações cerebrais que podem não estar relacionadas com o Zika.

O que deve ser feito quando um bebê nasce com microcefalia?
Ela será investigada em relação às infecções que podem estar relacionadas e submetida a exames de imagem para coletar mais informações. Um acompanhamento específico, com equipe multiprofissional irá apontar o tipo de deficiência que esta criança irá apresentar, e quais as medidas que vão ser tomadas para tratar essas deficiências objetivando um bom desenvolvimento da criança, dentro do possível.

Quais as consequências da microcefalia?
Cerca de 90% das microcefalias estão associadas com retardo mental, exceto nas de origem familiar, que podem ter o desenvolvimento cognitivo normal. O tipo e o nível de gravidade da sequela vão variar caso a caso. Tratamentos realizados desde os primeiros anos melhoram o desenvolvimento e a qualidade de vida.

Como é feito o diagnóstico do Zika Vírus na mãe?
O diagnóstico do Zika Vírus é clínico e feito por um médico. O resultado é confirmado por meio de exames laboratoriais de sorologia e de biologia molecular ou com o teste rápido, usado para triagem. A sorologia é feita pela técnica MAC ELISA, por PCR e teste rápido. Todos os exames estão disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS).

Já os recém-nascidos com suspeita de comprometimento neurológico necessitam de exames de imagem, como ultrassom, tomografias ou ressonância magnética. Em caso de confirmação do Zika Vírus, a notificação deve ser feita ao Ministério da Saúde em até 24 horas.

Existe tratamento?
O tratamento do Zika Vírus é feito de acordo com os sintomas, com o uso de analgésicos, antitérmicos e outros medicamentos disponíveis em qualquer unidade pública de saúde para controlar a febre e a dor. No caso de sequelas mais graves, como doenças neurológicas, deve haver acompanhamento médico para avaliar o melhor tratamento a ser aplicado. As sequelas são tratadas em centros multi-profissionais especializados, como os Centros Especializados de Reabilitação (CERS).

Quais os sintomas do Zika Vírus?

Os sintomas mais comuns associados ao vírus Zika são:

• “Vermelhão” em todo o corpo com muita “coceira” depois de alguns dias.

• Febre baixa, muitas vezes não sentida.

• Conjuntivite (olho vermelho) sem secreção.

• Mialgia e dor de cabeça.

• Dor nas juntas.

Todos os sintomas são de intensidade de leve a moderada. Se você apresentar algum sintoma suspeito, é fundamental procurar um profissional de saúde para o correto diagnóstico e prescrição dos medicamentos. Importante lembrar que o Ministério da Saúde não recomenda, em hipótese alguma, a auto-medicação.

Após ser infectado pelo Zika Vírus, existe cura?
A infecção por Zika Vírus na maioria dos casos é uma doença branda, com duração de três a sete dias, e tem cura espontânea depois de 10 dias. As principais complicações são neurológicas e devem ser tratadas caso a caso, conforme orientação médica. Todo o tratamento é oferecido, de forma integral e gratuita, pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Quem já teve Zika Vírus pode ter novamente?
Outros vírus parecidos com o Zika geram imunidade para a vida inteira. Quem já teve dengue pelo vírus 1, por exemplo, não voltará a ter pelo mesmo vírus. O mesmo acontece com a febre amarela. Porém, ainda não há estudos suficientes para afirmar isso em relação ao vírus Zika.

Que cuidados devo ter ao nascimento do meu filho?

Após o nascimento, o bebê será avaliado pelo profissional de saúde na maternidade. A medição da cabeça do bebê (perímetro cefálico) faz parte dessa avaliação. Além dos testes de Triagem Neonatal de Rotina (teste de orelhinha, teste do pezinho e teste do olhinho), poderão ser realizados outros exames. Leve seu bebê a uma Unidade Básica de Saúde para o acompanhamento do crescimento e desenvolvimento conforme o calendário de consulta de puericultura. Mantenha a vacinação em dia, de acordo com o calendário vacinal da Caderneta da Criança.

Qual a forma de prevenção do Zika Vírus?
As medidas de prevenção e controle são semelhantes aos da dengue e chikungunya. A melhor forma de prevenção, e a mais eficaz de todas elas, é evitar a proliferação do mosquito Aedes Aegypti, eliminando água armazenada que podem se tornar possíveis criadouros, como em vasos de plantas, lagões de água, pneus, garrafas plásticas, piscinas sem uso e manutenção, e até mesmo em recipientes pequenos, como tampas de garrafas e pratos de plantas. Clique e leia: Sintomas, consequências e tratamento da Dengue

De forma complementar, deve ser realizada a proteção individual com uso de repelentes pela população. Pode-se utilizar também roupas que minimizem a exposição da pele, proporcionando alguma proteção contra as picadas dos mosquitos, principalmente durante o dia, período que são mais ativos.

Os cuidados na gestação: prevenção e proteção

• Utilize telas em janelas e portas, use roupas compridas (calças e blusas) e, se vestir roupas que deixem áreas do corpo expostas, aplique repelente nessas áreas;

• Fique, preferencialmente, em locais com telas de proteção, mosquiteiros ou outras barreiras disponíveis;

• Pratique sexo seguro.

Atenção

• Busque uma Unidade Básica de Saúde para iniciar o pré-natal assim que descobrir a gravidez e compareça às consultas regularmente.

• Vá as consultas às consultas uma vez por mês até a 28ª semana de gravidez; a cada quinze dias entre a 28ª e a 36ª semana; e semanalmente do início da 36ª semana até o nascimento do bebê.

• Tome todas as vacinas indicadas para gestantes.

• Em caso de febre ou dor, procure um serviço de saúde. Não tome qualquer medicamento por conta própria.

• Se tiver dúvida, fale com o seu médico ou com um profissional de saúde.

• Relate ao seu médico qualquer sintoma ou medicamento usado durante a gestação.

• Leve sempre consigo a Caderneta da Gestante, pois nela consta todo seu histórico de gestação.

Os cuidados ao recém-nascido

• Proteger o ambiente com telas em janelas e portas, e procurar manter o bebê com uso contínuo de roupas compridas - calças e blusas.

• Manter o bebê em locais com telas de proteção, mosquiteiros ou outras barreiras disponíveis.

• A amamentação é indicada até o 2º ano de vida ou mais, sendo exclusiva nos primeiros 6 meses de vida.

• Caso se observem manchas vermelhas na pele, olhos avermelhados ou febre, procurar um serviço de saúde.

• Não dar ao bebê qualquer medicamento por conta própria.

Cuidados ao recém-nascido com microcefalia

Além do acompanhamento de rotina na Unidade Básica de Saúde, seu bebê precisa ser encaminhado para a estimulação precoce. Caso o bebê apresente alterações ou complicações (neurológicas, motoras ou respiratórias, entre outras), o acompanhamento por diferentes especialistas poderá ser necessário, a depender de cada caso.

Confira os casos de Zika por Estados, no ano de 2018:

• No ano de 2018, o Rio de Janeiro ocupa o primeiro lugar, entre todos estados com maior número de casos de Zika.

Pernambuco caiu para 15º posição.

Santa Catarina é o estado com menor número de incidência da doença pelo vírus Zika.

1º - Rio de Janeiro

2º - Goiás

3º - Bahia

4º - Mato Grosso

5º - Rio Grande do Norte

6º - Amazonas

7º - Paraíba

8º - São Paulo

9º - Pará

10º - Ceará

11º - Espírito Santo

12º - Minas Gerais

13º - Tocantins

14º - Alagoas

15º - Pernambuco

16º - Maranhão

17º - Mato Grosso do Sul

18º - Acre

19º - Distrito Federal

20º - Piauí

21º - Roraima

22º - Paraná

23º - Amapá

24º - Rondônia

25º - Sergipe e Rio Grande do Sul

26º - Santa Catarina

Clique no link e leia o artigo completo: Todos os mosquitos Aedes aegypti transmitem vírus? O ciclo do mosquito e as doenças transmitidas

Fonte: Fundação Oswaldo Cruz, Ministério da Saúde, Medicina Mitos e Verdades: infectologista Prof. Dr. Vicente Amato Neto