Febre reumática pode atingir o coração

Febre reumática pode atingir o coração

O que é febre reumática?
A febre reumática é uma doença desencadeada por uma resposta prolongada do sistema imune, gerada, inicialmente, contra um agente infeccioso. Esta doença era bastante frequente em nosso país até a década de 70, mas vem se tornando cada vez mais rara, sendo que, nos últimos 20 anos, poucos casos têm chegado ao consultório dos reumatologistas.

A febre reumática atinge apenas crianças?
É uma doença predominantemente infantil, com o maior número de casos ocorrendo entre 5 e 15 anos de idade. Em adultos, a doença é bastante rara, sendo a crise inicial perto dos 20 anos de idade.

Quais as causas da febre reumática?
Embora o aparecimento da doença seja mais frequente em locais onde as condições de vida são pouco apropriadas e, geralmente, em populações socialmente e economicamente desfavorecidas, este fatores, por si só, não conseguem explicar totalmente o aparecimento da doença. Acredita-se que os pacientes acometidos pela febre reumática também tenham uma predisposição genética, uma espécie de herança biológica para desenvolver a doença.

Sintomas da febre reumática
A história clássica da febre reumática é de uma criança que teve uma infecção de garganta e, depois de algum tempo, passou a sentir dores nas juntas que "passeavam pelo corpo", ou seja, um dia doía o joelho, no dia seguinte a dor neste joelho passava, mas doía o outro joelho, em seguida esta dor passava; e surgiam dores em mãos que desapareciam e outras juntas passavam a doer. Este tipo de dor articular recebe o nome de poliartrite migratória .

Qual a relação da infecção de garganta com a febre reumática?
A infecção de garganta que pode produzir a febre reumática é causada por uma bactéria denominada estreptococo beta hemolítico do grupo A de Lancefield. Esta classificação da bactéria foi feita por uma bacteriologista chamada Rebecca Lancefield. O que se supõe é que a constituição das proteínas do estreptococo se "parece" com algumas proteínas da articulação e do coração. A criança com uma determinada constituição genética, ao produzir anticorpos contra o estreptococos, também ataca as juntas e, em alguns casos, o coração. Entretanto, em média acada2crianças entre 100 que tiveram infecção pelo estreptococo, vão ter a febre reumática.

Como a febre reumática atinge o coração?
Nesta doença, quando o coração é acometido, a lesão chama-se cardite, e pode envolver as três partes do coração: o pericárdio (parte mais externa que recobre o coração), o miocárdio (músculo) e o endocárdio (parte interna). As válvulas do coração podem também ser atingidas por uma inflamação e, consequentemente, ficar lesadas. A válvula mais atingida é a válvula mitral, que pode ficar com um defeito chamado de insuficiência mitral. Este defeito pode provocar o que chamamos de sopro cardíaco, observado pelo médico durante o exame físico. As lesões da válvula mitral corresponde a 40% de cirurgias cardíacas realizadas em jovens no Brasil.
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Quais as consequências da febre reumática?
Cerca de 75% dos pacientes com febre reumática tem poliartrite migratória e, mais ou menos, entre 40 e 60 %, tem cardite. Outros sintomas mais raros são uma vermelhidão na pele chamada de eritema maginatum, alguns nódulos na pele e uma alteração do sistema nervoso chamada de coreia (movimentos descoordenados de braços e pernas).

O que é coreia?
A coreia atinge cerca de 15% dos pacientes com febre reumática. É um distúrbio do movimento causado pela inflamação do sistema nervoso. Provoca movimentos súbitos, abruptos e descoordenados de braços e pernas e também na face. Esses movimentos são desencadeados mais facilmente pela emoção aflorada ou por esforços físicos. Crianças com coreia costumam se irritar facilmente, são mais agressivas e choram com frequência. A coreia é uma consequência da febre reumática o que não significa que portadores de coreia tenham a febre reumática.

Como diagnosticar a febre reumática?
É importante para o diagnóstico:
• Saber o histórico clínico da criança, incluindo, a infecção de garganta e outros sintomas como a dor nas juntas ;
• Exame físico à procura de sinais de artrite, cardite, febre ou outros sinais citados nesta questão;
• Exames de laboratório e de imagem, como o ecocardiograma e o eletrocardiograma.

A bactéria estreptococo produz uma substância denominada estreptolisina O, e nosso organismo responde fazendo anticorpos contra ela, denominados anti-estreptolisina O (ASLO). O aumento deste no exame de sangue, ajuda no diagnóstico, mostrando uma infecção recente pela bactéria, mas apenas seu aumento não faz o diagnóstico da doença. Outros exames podem mostrar a presença de inflamação recente (velocidade de hemossedimentação e Proteína C reativa), e mudanças no eletrocardiograma, principalmente, uma alteração denominada "prolongamento do espaço PR" podem contribuir, ao lado de outros dados, para o diagnóstico final da doença.

Em que consiste o tratamento da febre reumática?
O tratamento visa a erradicação da infecção pela bactéria e a prevenção de novas infecções. Isso é feito com a utilização da penicilina que, habitualmente, é aplicada no músculo, mais ou menos mensalmente, até 5 anos após o diagnóstico, ou até os 18 a 20 anos (a penicilina utilizada chama-se penicilina benzatina, com o nome comercial de Benzetacil®, e sua aplicação é um pouco doída).

Febre reumática deixa sequelas? Qual a orientação de tratamento nesses casos?
Para os pacientes com sequela de problema cardiológico, a prevenção com penicilina deve ser feita pelo resto da vida. Durante a fase aguda da doença, anti-inflamatórios, como a aspirina, podem ser usados para aliviar os sintomas e diminuir a inflamação. Nos casos de cardite, podem ser utilizados corticoides . Em todos os casos, o médico especialista (reumatologista, cardiologista) deve ser consultado para um tratamento individualizado.

Este conteúdo é exclusivo do capítulo de Reumatologia do livro Medicina Mitos e Verdades (Carla Leonel). Médico responsável Prof. Dr. Cristiano Zerbini, Coordenador do Núcleo Avançado de Reumatologia do Hospital Sírio Libanês e Diretor do Centro Paulista de Investigações Clínicas.

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