Icterícia em recém-nascidos é grave?
No artigo anterior explicamos as causas da icterícia em adultos e as consequências para o organismo - clique no link azul para ler o artigo. Agora vamos abordar a icterícia que atinge os bebês logo ao nascer.
A icterícia do recém-nascido é resultado de uma combinação de fatores característicos do período neonatal. Estes levam ao aumento da bilirrubina (pigmentos biliares da vesícula biliar) que é responsável pelo aspecto amarelo do bebê. Ao nascer, a criança apresenta um número de hemácias (glóbulos vermelhos) maior que o necessário para viver fora da barriga da mãe e, por isso, ocorre destruição das células vermelhas com liberação de bilirrubina em grande quantidade.
O bebê também apresenta diminuição da transformação da bilirrubina no fígado e aumento da absorção no intestino. Todas essas alterações juntas levam ao acúmulo de bilirrubina que se deposita na pele, dando o aspecto amarelo. Essas alterações são esperadas nos bebês e a icterícia leve é comum nos primeiros sete dias de vida do bebê podendo melhorar espontaneamente ou através de fototerapia (berço com banho de luz) - para entender melhor o que é icterícia clique no link azul.
Em alguns casos ocorre a icterícia por incompatibilidade sanguínea materno-fetal, ou seja, a mãe apresenta tipo sanguíneo diferente do bebê e, por isso, pode criar anticorpos contra as células vermelhas da criança, aumentando ainda mais a destruição de hemácias, o que leva a uma quantidade de bilirrubina muito maior que a esperada. Os sistemas mais comumentes afetados são o Rh (a mãe é Rh negativo e o recém-nascido é Rh positivo) ou através do tipo A, B ou O (a mãe é do tipo O e o recém-nascido, A ou B). Nesses casos, pode haver necessidade da troca sanguínea do bebê, processo denominado exsanguíneotransfusão (o sangue do bebê é retirado em pequenas quantidades e substituído pelo sangue de um doador compatível).
Outras causas que podem determinar as icterícias, apesar de mais raras, são as infecções no período pré-natal, geralmente congênitas, causadas por vírus (hepatite, mononucleose, rubéola, herpes) e infecções por bactérias, sífilis e toxoplasmose. A icterícia também pode ser causada por deficiências enzimáticas, anemias (que destroem os glóbulos vermelhos) ou malformações congênitas das vias biliares e, nesse caso, pode ser necessária intervenção cirúrgica.
Em casos raros, os níveis de bilirrubina podem ficar muito altos e, dessa forma, ocorre depósito não só na pele do bebê como no cérebro, o que pode gerar deficiência auditiva e cerebral. Nestes casos mais graves, pode ser necessária também a troca de sangue.
Todo tratamento proposto para curar icterícia tem por objetivo diminuir a quantidade de pigmentos biliares da corrente sanguínea. A bilirrubina em quantidade excessiva pode impregnar o sistema nervoso central (encéfalo), causando a encefalopatia bilirrubinica com risco de vida para o recém-nascido.
A encefalopatia bilirrubinica provoca a diminuição da atividade, letargia (sono profundo), irritabilidade e perda de interesse pela alimentação. O caso vai se agravando, podendo ocorrer convulsões, hemorragia gástrica e pulmonar, até morte. Os que sobrevivem à lesão cerebral grave podem apresentar retardo mental, paralisia cerebral com sinais motores, como tremor e movimentos descontrolados, além de surdez. Nos prematuros de baixo peso os problemas são mais graves, potencializando-se as consequências. Leia artigo completo sobre Paralisia Cerebral
Conteúdo do livro: Medicina Mitos e Verdades (Carla Leonel). Capítulo de Pediatria. Médico responsável Dr. Cláudio Schvartsman - Vice-presidente de ensino e pesquisa do Hospital Israelita Albert Einstein e Chefe do Pronto Socorro do Instituto da Criança do HCFMUSP.
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