Doença intestinal que causa diarreia e prisão de ventre
A prisão de ventre e a diarreia podem ser provocadas por doenças orgânicas ou, quando constante, pode até desencadear doenças intestinais. Toda alteração, como diarreia, prisão de ventre, excesso de gases, cólicas abdominais, ou evacuações com sangue ou muco é chamada de "colite" (à semelhança do termo “gastrite”, usada para qualquer manifestação de desconforto na parte superior do abdome).
Várias são as causas das “colites”. Elas podem estar relacionadas à intoxicação alimentar, infecção por bactérias, protozoários, helmintos ou vírus, assim como por etiologia não definida, ou por doenças. Para ler as outras causas da diarreia clique na palavra em azul. Neste artigo, o gastroenterologista Prof. Dr. Luiz Chehter irá citar as principais doenças que tem a diarreia e/ou prisão de ventre como sintoma. Lembrando que toda diarreia com eliminação de muco ou sangue nas fezes merece investigação detalhada.
1. Síndrome do intestino irritável: tanto a diarreia como a prisão de ventre estão entre os sintomas
Doença comum do mundo moderno. Significa uma resposta do intestino ao estresse. A pessoa tem alteração da motricidade intestinal e essa mudança é caracterizada por diarreia ou prisão de ventre, ambas de curta duração. A síndrome de colón irritável acomete mais o lado esquerdo e, em decorrência do aumento das contrações musculares, provoca a moléstia diverticular hipertônica podendo causar inflamação (citada no item 4).
2. Retocolite ulcerativa inespecífica: diarreia e na fase avançada, prisão de ventre
Doença que compromete todo o intestino grosso, provocando feridas e ulceração (Doença Inflamatória Intestinal - DII). Os sintomas podem incluir dor abdominal, urgência evacuatória, diarreia e sangue nas fezes. A inflamação começa no reto e pode se estender até o cólon de maneira contínua.
O paciente elimina sangue pelas fezes. Na evolução da doença pode acontecer o fechamento do intestino, havendo maior incidência de câncer do intestino grosso. A obstrução pelo tumor é que provoca a prisão de ventre.
Tipos de retocolite ulcerativa e os seus sintomas
Os sintomas da retocolite ulcerativa podem variar dependendo da magnitude da inflamação e do lugar onde se localiza a doença dentro do intestino grosso. Dessa forma, é muito importante que você saiba que parte do seu intestino está afetada. A seguir há uma lista dos tipos mais comuns de retocolite ulcerativa.
a) Proctite ulcerativa (retite): a inflamação intestinal está limitada ao reto. Devido a sua extensão limitada (em geral, menos de 15 centímetros do reto), a proctite ulcerativa tende a ser o tipo mais leve de retocolite ulcerativa. Os sintomas incluem sangramento retal (retossigmoidite), urgência em defecar, e dor retal.
b) Proctossigmoidite: colite que afeta o reto e o cólon sigmoide (segmento inferior do cólon, localizado imediatamente acima do reto). Os sintomas incluem diarreia com sangue, cólicas e tenesmo (esforço para defecar). Talvez a dor na parte esquerda do abdome seja moderada enquanto a doença estiver ativa.
c) Colite distal (ou esquerda): inflamação contínua que começa no reto e se estende até o ângulo esplênico (uma curva do cólon, perto do baço, na parte superior esquerda do abdome). Os sintomas incluem a perda de apetite, perda de peso e diarreia com sangue, além de dor abdominal intensa na parte esquerda.
d) Pancolite (colite universal): afeta todo o cólon. Os sintomas incluem perda de apetite, diarreia com sangue, dor abdominal intensa e perda de peso
3. Doença de Crohn: diarreia
Doença inflamatória crônica que pode afetar todo o tubo digestivo, desde a boca até o ânus. Atinge predominantemente a parte inferior do intestino delgado (íleo) e intestino grosso (cólon), mas pode afetar qualquer parte do trato gastrointestinal. A doença de Crohn habitualmente causa diarreia, cólica abdominal, às vezes febre, e sangramento retal. Também pode ocorrer perda de apetite, e de peso subsequente. Os sintomas podem variar de leve à grave, mas em geral, as pessoas com doença de Crohn podem ter vida ativa e produtiva.
A doença de Crohn é crônica. Não sabemos qual é a sua causa. Os medicamentos disponíveis atualmente reduzem a inflamação e habitualmente controlam os sintomas, mas não curam a doença.
Como a doença de Crohn se comporta como a colite ulcerativa (às vezes é difícil diferenciar uma da outra), as duas doenças são agrupadas na categoria de doenças inflamatórias intestinais (DII). Diferentemente da doença de Crohn, em que todas as camadas estão envolvidas e na qual pode haver segmentos de intestino saudável, normal, entre os segmentos do intestino doente, a colite ulcerativa afeta apenas a camada mais superficial (mucosa) do cólon, e de modo contínuo.
Dependendo da região afetada, a doença de Crohn era chamada de ileite, enterite regional ou colite, etc. Para reduzir a confusão, o termo doença de Crohn foi usado, para identificar a doença, qualquer que seja a região do corpo afetada (íleo, cólon, reto, ânus, estômago, duodeno, etc.). Ela é chamada doença de Crohn, porque Burril B. Crohn foi o primeiro nome de um artigo de três autores, publicado em 1932, que descreveu a doença.
4. Moléstia diverticular com diverticulite: diarreia ou prisão de ventre
A moléstia ocorre quando, na parede do intestino, forma-se um saco ou uma pequena bolsa que cresce para fora, o que é chamado de divertículo. O divertículo hipotônico costuma ser comum em pessoas com mais de 70 anos e normalmente são formados pelo enfraquecimento natural dos tecidos do intestino devido à idade. Já o divertículo hipertônico é mais comum em adultos jovens.
A predisposição genética e dieta pobre em fibras também estão entre as causas.
A divertículo passa para a condição de diverticulite quando essa bolsa (divertículo) retém acúmulos de resíduos ou restos de fezes ou alimentos, e inflama ou infecciona. Os divertículos não costumam apresentar sintomas. Já a diverticulite pode causar causa tanto a diarreia como a prisão de ventre. Pode existir sangue nas fezes.
A grande maioria dos casos de diverticulite responde ao tratamento clínico em torno de sete a dez dias. O tratamento cirúrgico é necessário nos casos mais graves que evoluem com a formação de abscesso ou peritonite (infecção grave do abdome), A cirurgia é emergencial pois a ruptura de um divertículo pode levar a peritonite generalizada e causar a morte.
5. Tumor do intestino grosso ou do intestino delgado: diarreia e prisão de ventre
O câncer do intestino delgado é extremamente raro. Quando se refere ao câncer do intestino fala-se do câncer de cólon ou do reto ou de qualquer segmento do intestino grosso. Na maioria das vezes, o câncer é precedido por um pólipo. Pólipo é um tumor benigno, que se projeta para a luz do intestino e que pode “degenerar” e dar origem ao câncer.
O aparecimento de pólipos benignos nas paredes colorretais é relativamente comum, principalmente a partir dos 50 anos de idade. Como um grande número de cânceres de cólon e de reto desenvolve-se a partir destes pólipos, o ideal seria removê-los preventivamente. Porém, estes pólipos geralmente não apresentam sintomas, o que dificulta sua detecção precoce.
A constante prisão de ventre está entre um dos fatores de risco de câncer colorretal. Estudos sugerem que o contato das fezes com as paredes do cólon e do reto por períodos prolongados de tempo aumenta as chances de desenvolver a doença.
Este tipo de câncer, na maioria dos casos, é silencioso, assintomático, mas pode ser diagnosticado precocemente pelo exame de sangue oculto nas fezes e/ou por colonoscopia, o que aumenta a chance de cura dos pacientes.
Leia os artigos:
• Câncer colorretal: causas, sintomas e tratamento
• Diagnóstico do câncer colorretal
6. Doença de Chagas: prisão de ventre
Doença provocada pelo parasita Trypanossoma cruzi e transmitida pelo barbeiro, inseto que vive em casas do campo, principalmente naquelas feitas de pau-a-pique (parede feita de ripas ou varas enxertadas com barro). Esse protozoário lesa principalmente os nervos. Quando ele atinge os nervos do tubo digestivo, provoca um nó no esôfago distal, que se dilata fazendo com que o doente não consiga mais engolir. O protozoário acomete também o cólon, provocando o chamado "megacólon chagásico", doença em que o intestino grosso deixa de funcionar por causa da neuropatia (enfermidade dos nervos) consequente à ação do parasita.
Leia também:
• Doenças e condições que causam aumento dos gases intestinais
• Eliminação de catarro pelas fezes
Conteúdo exclusivo do site Medicina Mitos e Verdades. Médico responsável pela categoria de gastroenterologia Prof. Dr. Luiz Chehter.
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