Tipos sanguíneos e fator Rh: diferenças e compatibilidade para doação

Tipos sanguíneos e fator Rh: diferenças e compatibilidade para doação

As primeiras tentativas de transfusão de sangue nem sempre davam certo. Até os pesquisadores descobrirem a existência dos diferentes tipos sanguíneos, muitas pessoas tinham reações graves ou morriam após receber transfusão. Buscando explicações para essas ocorrências, observaram que ao misturar algumas amostras de sangue formavam-se aglomerados de glóbulos vermelhos semelhantes a coágulos.

No ano de 1901, o médico austríaco Karl Landsteiner (1868-1943), concluiu que essas reações ocorriam por incompatibilidade entre os tipos sanguíneos e criou o sistema de classificação ABO. A partir deste fato, as transfusões de sangue tornaram-se bem mais seguras.

Quais as características e diferenças entre os tipos sanguíneos para existir compatibilidade?

O fundamento principal está nas reações imunológicas causadas entre proteínas especiais (antígenos) dos glóbulos vermelhos que reagem com biomoléculas (anticorpos) contidas no plasma sanguíneo.

O sangue é um tecido conjuntivo líquido formado por várias células. O plasma (parte líquida) é composto por água, proteínas e nutrientes, representando 55% do volume do sangue. No plasma de alguns grupos sanguíneos, existe uma biomolécula que atua como anticorpo (chamada de aglutinina).

Nos outros 45% do sangue estão às células vermelhas, brancas e plaquetas. As células vermelhas (hemácias/eritrócitos = glóbulos vermelhos) constituem a maior parte e podem conter antígenos (aglutinogênios) que provocam reações imunológicas ao entrarem em contato com os anticorpos do sangue (aglutinina).

São os antígenos dos glóbulos vermelhos e os anticorpos contidos no plasma que geram as características dos tipos sanguíneos e os tornam diferentes entre si, conferindo desta forma, a compatibilidade ou incompatibilidade entre os sangues.

Antígenos são substâncias capazes de estimular o corpo a produzir anticorpos. Para você entender melhor, seria o equivalente aos micro-organismos invasores, como os vírus e bactérias, por exemplo. No sangue são representados pelos aglutinogênios.

Os anticorpos (aglutininas) têm a função de neutralizar ou destruir os antígenos (aglutinogênios). Porém, apenas o antígeno é capaz de estimular o corpo a produzir anticorpos. Por isso, os tipos de sangue que não possuem antígeno, não oferece risco de incompatibilidade, já que não existiria nenhum tipo de anticorpo que pudesse interpretar o antígeno como um invasor.

Confira as possíveis variações existentes no grupo sanguíneo do sistema ABO (Tipo A, B, AB e O)

ANTÍGENOS DOS GLÓBULOS VERMELHOS (aglutinogênio)

• A presença ou ausência do aglutinogênio A (antígeno A) e/ou aglutinogênio B (antígeno B) na membrana das células dos glóbulos vermelhos:

- Tipo A: possui apenas antígeno A,

- Tipo B: possui apenas antígeno B,

- Tipo AB: possui antígeno A e antígeno B,

- Tipo O: não possui antígeno .

ANTICORPOS NO PLASMA (aglutinina)

• A presença ou ausência de aglutinina tipo A e/ou aglutinina B no plasma:

- Tipo A: produz anticorpo para o tipo B (anti-B)

- Tipo B: produz anticorpo para o tipo A (anti-A)

- Tipo AB: não produz anticorpos

- Tipo O: produz anticorpo para ambas: tipo A (anti-A) e tipo B (anti-B)

Observando os dados acima, vamos dar um exemplo para melhor entendimento:

Quem tem o sangue tipo A não pode doar sangue para pessoas com o tipo B, pois as hemácias (glóbulos vermelhos) que são do tipo A, ao entrarem na corrente sanguínea do receptor com sangue B são imediatamente aglutinadas pelo anticorpo (anti-A) presente no sangue do receptor. Isso significa que as hemácias vão se aglutinando, formando aglomerados compactos, que podem obstruir os capilares e coagular.

E o fator Rh? O que significa ter o sangue negativo ou positivo?

O fator Rh é considerado outro grupo sanguíneo, tendo o gene R dominante, e o “r” recessivo. A herança do fator Rh é considerada um mecanismo de dominância completa.

O gene dominante D condiciona a produção de antígenos Rh (D) nos glóbulos vermelhos e está presente em 85% dos indivíduos. Este é o chamado “sangue positivo” ( + ) .

O gene d recessivo abrange apenas 15% da população e não possui o antígeno D nas células vermelhas, sendo classificado como sangue negativo ( - ).

Contrário do grupo AOB, o fator Rh não possui anticorpo natural. A existência de anticorpo (anti-Rh) no plasma só ocorre caso a pessoa com o sangue negativo receba sangue positivo (Rh+).

Incompatibilidade pelo fator Rh

Quem tem sangue negativo não pode receber sangue positivo, pois o corpo responderia criando anticorpos (anti-Rh) para combater o antígeno existente nos glóbulos vermelhos provocando a aglutinação e destruição das hemácias.

Já quem tem sangue negativo, não possui o antígeno e, portanto, pode doar tanto para os negativos quanto para os positivos, por não ocorrer o fenômeno da reação entre antígeno e anticorpo (já que ambos estão ausentes no sangue negativo).

Esta é a mesma problemática que surge quando uma mulher com sangue negativo tem um feto na barriga com sangue positivo. A importância de incluir o exame da tipagem sanguínea no exame pré-natal é a chance de tratar os bebês para não ter suas células vermelhas destruídas pelo sangue negativo da mãe. Ela pode ser evitada se a mãe for vacinada com gamaglobulina Anti-Rh antes do bebê nascer.

A eritroblastose fetal ou doença hemolítica do recém-nascido é caracterizada pela destruição das células vermelhas do feto por um mecanismo semelhante ao da transfusão de sangue incompatível. As lesões são graves e irreversíveis gerando bebês natimortos, ou portadores de deficiência mental, surdez, paralisia cerebral, fígado e baço aumentado, icterícia ou levar à morte.

Durante a gestação, a mãe produziria anticorpos (anti-Rh) para tentar destruir o Rh positivo do feto considerado “invasor”. Na primeira gravidez, o bebê pode não apresentar problemas, mas na segunda gestação a eritroblastose fetal se manifesta de forma grave.

Ao contato do sangue da mãe com o do bebê, (normalmente no final da gestação pela placenta ou no parto), inicia-se o processo de produção de anticorpos para tentar destruir o Rh positivo do feto (considerado antígeno “invasor”) que seria os glóbulos vermelhos do bebê. A maioria das hemorragias transplacentárias acontecem na hora do parto.

Como a produção de anticorpos ocorre de maneira lenta, a doença surge, principalmente, na segunda gestação, quando a quantidade de anticorpos presentes no sangue da mãe já é suficiente para atingi-lo. O bebê que nasce com eritroblastose fetal deve ser submetido a uma transfusão sanguínea.

O mesmo mecanismo ocorre com a transfusão entre pessoas com Fator Rh positivo e negativo. O portador do sangue negativo pode ser exposto uma única vez ao Rh positivo sem risco de morte. Na primeira transfusão ficaria sensibilizado, mas na segunda, seria fatal.

Quais os sintomas e riscos da incompatibilidade sanguínea?

A incompatibilidade do sangue provoca desde reações graves até a morte, dependendo da quantidade de sangue recebida. É a chamada reação hemolítica aguda. Os sintomas e as consequências são diversas:

• Hipertensão ou hipotensão,

• Dificuldade para respirar ou respiração acelerada,

• Falta de ar,

• Pressão no peito,

• Hipóxia (diminuição do oxigênio no sangue),

• Edema localizado ou generalizado,

• Prurido, urticária,

• Rubor na pele,

• Náuseas com ou sem vômito.

Pode ocorrer choque em combinação com febre, tremores, hipotensão e/ou falência cardíaca ou falência circulatória, sem sinais de febre ou calafrio. Saiba mais no artigo complementar: Tipos de choques e consequências

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O que é considerado doador e receptor universal?

São casos especiais que podem ser muito útil apesar de representar a minoria da população (12%). O sangue do doador universal (O-) poderia ser qualificado como 100% generoso e altruísta: permite ser doado para pessoas de qualquer tipo sanguíneo, porém, ele próprio tem dificuldade em obtê-lo, já que só pode aceitar do mesmo tipo (O-). Apenas 7% da população brasileira são portadores do sangue 0 negativo.

O contrário ocorre com o receptor universal (AB), que tem um “sangue individualista, exclusivista”: ou seja, admite receber doação de todos os grupos sanguíneos, mas não consegue doar para ninguém.

Receptor universal - tipo AB

O sangue do receptor universal não tem anticorpo no plasma. Isso significa que não existe risco de nenhum tipo de sangue destruir seus glóbulos vermelhos (antígenos), o que o libera para receber sangue de qualquer tipo.

Para doação, não é muito útil, por apresentar incompatibilidade com todos os outros tipos sanguíneos, contemplando apenas quem também tem o AB. Por sorte, apenas 3% da população brasileira possui este sangue, visto que não há necessidade de tê-lo em estoque (quem é AB se beneficia com qualquer tipo sanguíneo).

Doador universal - Tipo O

O sangue do tipo O negativo (O -) é compatível com todos os tipos sanguíneos porque não carrega nenhum antígeno que possa reagir com os anticorpos do plasma. Este sangue é muito requisitado nos hospitais, já que em situações de emergências é o tipo que salva na falta do sangue do mesmo grupo.

O sangue 0 + também pode ser considerado doador universal já que pode doar para qualquer receptor (exceto com fator Rh -), beneficiando 84% da população brasileira. Confira:

• TIPO O + (38% da população brasileira)

• TIPO A + (34% da população brasileira)

• TIPO B + (9% da população brasileira)

• TIPO AB (3 % da população brasileira)

Por medida de segurança, os bancos de sangue precisam ter no mínimo 50% do tipo O em estoque. Se você tem o privilégio de possuir sangue do tipo O, arregace as mangas e procure o hemocentro mais perto de você. Você estará salvando 4 vidas.

Compatibilidade sanguínea. Quem pode doar para quem?

O sistema ABO (grupo A, B, AB, e O) e Rh (positivo e negativo) forma uma combinação com 8 tipos de sangue. Os tipos de sangue mais comum na população brasileira são o O e o A+. Neste tópico, vamos demostrar os sangues compatíveis de acordo com suas características. Veja na imagem quem pode doar e receber de quem.

TIPO O + (38%)

• Glóbulos vermelhos: não possui antígeno
• Plasma: anticorpo A (anti-A) e anticorpo B (anti-B)
• Possui fator Rh positivo: antígeno D

Observe que o tipo O não possui antígeno A, nem antígeno B, porém possuem os anticorpos tanto do Tipo A e do Tipo B. Isso significa que este sangue pode ser doado para todos os tipos pois como não tem antígeno, não existe risco de destruir as células vermelhas do receptor, com a ressalva do sangue do receptor deve ter Rh positivo igualmente.

Recebe de: O+ O-
Doa para: A+ B+ AB+ O+

TIPO O - (7%) doador universal

• Glóbulos vermelhos: não possui antígeno
• Plasma: anticorpo A (anti-A) e anticorpo B (anti-B)
• Fator Rh negativo: não possui antígeno D, e nem anticorpo D

Pode receber apenas do O -
Pode doar para todos: A+ A- B+ B- AB+ AB - O+ O-

TIPO A + (34% da população brasileira)

• Glóbulos vermelhos: antígeno A
• Plasma: produz anticorpo para o tipo B (anti-B), ou seja, não pode ser doado para o tipo B.
• Possui fator Rh positivo: antígeno D

Recebe de: A+ A - O+ O -
Doa para: A+ AB+

TIPO A - (6% da população brasileira)

• Glóbulos vermelhos: antígeno A
• Plasma: produz anticorpo para o tipo B (anti-B), ou seja, não pode ser doado para o tipo B.
• Fator Rh negativo: não possui antígeno D, e nem anticorpo D

Recebe de: A- O -
Doa para: A+ A- AB+ AB-

TIPO B + (9 % da população brasileira)

• Glóbulos vermelhos: antígeno B
• Plasma: anticorpo A (anti-A)
• Possui fator Rh positivo: antígeno D

Recebe: B + B -
Doa para: B+ AB + 0+ O-

TIPO B - (2% da população brasileira)

• Glóbulos vermelhos: antígeno B
• Plasma: anticorpo A (anti-A)
• Fator Rh negativo: não possui antígeno D, e nem anticorpo D

Recebe de: B - O -
Doa para: B + B - AB + AB -

TIPO AB (3 % da população brasileira) - receptor universal

• Glóbulos vermelhos: antígeno A e B
• Não possuem anticorpos (aglutinina)
• Possui fator Rh positivo: antígeno D

Recebe de todos: A+ A- B+ B- AB+ AB - O+ O-
Doa para: AB+

TIPO AB- (1%)

• Glóbulos vermelhos: antígeno A e B (anti-A e anti-B)
• Não possuem anticorpos (aglutinina)
• Fator Rh negativo: não possui antígeno D, e nem anticorpo D

Recebe de: A- B- AB- O-
Doa para: AB+ AB -

Leia o artigo complementar: Mitos e Verdades da Doação de Sangue

O ministério da Saúde reforça as campanhas para doação de sangue todos os anos. A média de doações no último ano foi de 3.3 milhões de pessoas e aproximadamente 2, 8 milhões de pacientes realizaram transfusões sanguíneas. Faça parte desta corrente de solidariedade. Principalmente se seu tipo de sangue está enquadrado entre os mais difíceis de encontrar. Doe sangue, salve vidas. Leia também: Tipos de hemorragia e doenças que necessitam de transfusão de sangue: a quantidade e os componentes do sangue indispensáveis para a sobrevivência

Para mais informações sobre as doações de sangue clique no link do Ministério da Saúde. Você terá uma sensação grandiosa após este gesto de solidariedade simples e fácil e ao mesmo tempo tão precioso. O seu sangue estará salvando 4 vidas.

Conteúdo do site Medicina Mitos e Verdades com a colaboração dos mais bem conceituados médicos do Brasil.