Bebida alcoólica corta o efeito do antibiótico? Remédios permitidos e proibidos
O álcool realmente corta o efeito dos antibióticos? Esta é uma das maiores dúvidas quando há necessidade de tomar antibióticos. Veja o que o Prof. Vicente Amato Neto, responsável pela disciplina de Infectologia do site Medicina Mitos e Verdades diz a este respeito:
Podemos dizer, que, dependendo da dose e do paciente, trata-se de mais um mito na medicina. O que ocorre, na verdade, é que muitos antibióticos empregados por via oral provocam irritação gástrica, e isso independe do consumo de bebidas alcoólicas durante o tratamento. Sendo assim, por uma questão de bom senso, costuma-se recomendar que o paciente não beba álcool e não coma alimentos muito condimentados, porque todos esses elementos juntos no organismo, vão causar uma irritação gástrica ainda maior. Outro aspecto é que o uso concomitante do álcool poderá diminuir a absorção do antibiótico (dependendo da dose e da classe de antibiótico). Ou seja, uma taça de vinho ou champanhe, uma cerveja ou uma dose de uísque não vão anular o efeito do antibiótico.
É bom deixar claro que isso não significa que o álcool está liberado. É importante você conversar com seu médico para saber a gravidade da sua doença e seu estado de saúde. Portanto, a regra não se aplica a todos os casos.
Pacientes com problemas hepáticos, por exemplo, devem ter atenção especial. O fígado é o principal órgão de metabolização de vários antibióticos e medicamentos. Muitos deles são absorvidos de forma inalterada pelo trato gastrointestinal (estômago e intestino) e transportado diretamente até o fígado. Ou seja, quanto mais dependente da metabolização hepática, maior o risco do antibiótico ter sua ação alterada em pacientes com problemas no fígado. A bebida alcoólica com antibióticos desta classe, correm o risco de ter a eficiência da dose original, reduzida em até 3 vezes.
Alguns dos antibióticos que é proibido o consumo de álcool:
• Metronidazol;
• Tinidazol;
• Trimetoprim-sulfametoxazol;
O uso desses antibióticos e a ingestão de bebida alcoólica durante o período de tratamento, poderá provocar toxidade hepática com efeitos colaterais graves, tais como:
• Arritmia cardíaca,
• Dor no peito,
• Palpitação,
• Falta de ar,
• Dor de cabeça,
• Tontura,
• Náuseas e vômitos,
• Enrubescimento da pele (rosto vermelho)
Inclusive, a proibição do álcool se estende até 48 horas após o término do uso desta classe de antibióticos.
Em proporção menor, mas também com riscos de inibição do efeito do antibiótico e toxidade hepática, podemos citar:
• Nitrofurantoína;
• Eritromicina;
• Rifampicina;
• Isoniazida - usado no tratamento e prevenção da tuberculose (leia o artigo);
• Cetoconazol (antifúngico)
Outros antibióticos que podem causar interferência pelo uso de bebidas alcoólicas:
• Cloranfenicol: embora com menor frequência, também existe o risco de provocar os mesmos efeitos adversos do Metronidazol e Tinidazol.
• Doxiciclina: em pacientes com histórico de uso crônico do álcool ou com problemas no fígado, pode ter sua eficácia diminuída.
• Linezolida: interfere apenas com bebidas alcoólicas fermentadas, como a cerveja, o vinho e o xerez, por exemplo.
• Eritromicina: mais raramente pode ter seus efeitos diminuídos e atrasado pelo consumo de bebidas alcoólicas.
É importante esclarecer que apesar do fígado ser uma das principais vias de metabolização de antibióticos e outros medicamentos, o trato gastrointestinal, assim como os rins, também participam deste processo. No caso de alguns antibióticos já explicados acima, o grau de toxidade é maior quando ele é transportado e absorvido diretamente pelo fígado.
No caso dos antibióticos com outras vias de metabolização, o excesso de álcool pode provocar uma sobrecarga hídrica, aumentando a filtração e diurese, o que acelera a excreção renal dos ativos do antibiótico, diminuindo, desta forma, sua eficácia.
O álcool tem ação diurética e hipoglicemiante (além de ser depressora do sistema nervoso central) e por isso, pode interferir no metabolismo não apenas de antibióticos, como de outras classes de medicamentos. Confira alguns exemplos dos remédios mais utilizados pela população:
• Paracetamol e bebida alcoólica: risco aumentado para hepatite medicamentosa.
• Dipirona: potencializa o efeito do álcool.
• Bebida alcoólica com ácido acetilsalicílico ou anti-inflamatório: potencial alto para agredir a mucosa do estômago. Riscos de sangramento no estômago e úlcera gástrica.
• Anticoncepcional e álcool: diminui o tempo de ação no organismo podendo provocar uma gravidez indesejada, principalmente, nos primeiros 6 meses de uso. Leia o artigo completo: Esqueci de tomar a pílula: posso engravidar?
• Remédios para emagrecer (inibidores de apetite) em associação com o álcool: efeitos colaterais no sistema nervoso central, podendo ocorrer desmaio, fraqueza, tontura e confusão mental.
• Ansiolítico em combinação com álcool: aumenta o efeito sedativo. Risco de insuficiência respiratória. Ler artigo: efeitos colaterais dos ansiolíticos
• Anticonvulsivantes com bebidas alcoólicas: diminui a eficácia contra as crises epiléticas além do risco de intoxicação e aumento dos efeitos colaterais do medicamento.
• Insulina e bebida alcoólica: como o álcool inibe a disponibilidade de glicose, ele aumenta os riscos de hipoglicemia.
• Anticoagulantes: interfere na eficácia pois provoca eliminação mais rápida da varfarina.
• Remédios para hipertensão (bloqueadores beta adrenérgicos) e álcool: risco de hipotensão arterial.
• Corticoides em associação com o álcool: é metabolizado de forma mais lenta podendo prejudicar o tratamento.
E aqui, voltamos a questão! O antibiótico corta ou anula o efeito do antibiótico?
Como você acabou de ler, depende do caso individual e do tipo de antibiótico. Estudos científicos demonstraram que o uso de alguns antibióticos associados a pequenas doses de bebidas alcoólicas (em pacientes sadios), não interfere na ação do medicamento. Quais são os permitidos?
• Cefalosporinas
• Tetraciclinas
• Penicilina
• Macrólido
De qualquer forma, não faça uso de bebidas alcoólicas concomitantemente ao uso de antibióticos sem consultar o seu médico. E se você esqueceu de tomar o antibiótico na hora certa, clique no link azul e veja como acertar a dose.
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• Intoxicação por medicamentos: meningite medicamentosa
• Metabolização do álcool e ressaca
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Conteúdo exclusivo do site Medicina Mitos e Verdades. Especialidade Medicamentos e Tratamentos, Infectologia. Médico responsável Prof. Dr. Vicente Amato Neto: Prof. Titular Emérito de Doenças Infecciosas e Parasitárias da Faculdade de Medicina USP.
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