Avanços na medicina permite diagnóstico precoce do câncer
O dia quatro de fevereiro é comemorado o Dia Mundial do Câncer. Estima-se, segundo dados do Ministério da Saúde, que se manifestem cerca de 580 mil casos novos da doença no ano de 2014 em todo o Brasil. Na região Nordeste esse número é de 99.060 mil.
Entre as mulheres, o câncer de mama será o de maior incidência no Nordeste, com 37 a cada 100 mil pessoas. Já o câncer de próstata, lidera o ranking dos mais incidentes entre os homens, com 47 casos por 100 mil para 2014.
O tempo é crucial no tratamento do câncer, e quanto mais cedo a doença for diagnosticada, mais chances de cura terá o paciente. Os avanços na medicina propiciaram a diminuição do tempo entre o diagnóstico e o começo do tratamento.
Atualmente, os novos métodos permitem detectar a doença precocemente e facilitar o prognóstico e remissão do tumor. Na detecção precoce do câncer de mama, houve um aumento de 30% no número de exames realizados por mulheres na faixa etária prioritária entre 50 a 69 anos.
“A detecção rápida do tumor, principalmente se descoberto no estágio inicial, é uma das principais estratégias para o melhor prognóstico. Os avanços das novas técnicas também ajudam na indicação do tratamento mais adequado, pois os resultados de exames são essenciais para que o oncologista selecione a medicação mais eficiente para cada caso”, comenta o médico patologista Venâncio Avancini Alves, da Sociedade Brasileira de Patologia (SBP).
Segundo Alves, o trabalho integrado dos médicos radiologistas e patologistas é um caminho altamente promissor para o aumento da precisão e ganho em termos de custo-benefício. Os métodos rotineiros para prevenção, como o exame de papanicolaou para o colo uterino, e a mamografia para a mama são essenciais o diagnostico precoce. Os exames detectam lesões iniciais e por meio disso o patologista em parceria com outras especialidades como o clínico e o radiologista ajudam e facilitam o prognóstico, diagnóstico e tratamento.
“Esse conjunto de procedimentos diagnósticos integrados tem aproximado as duas especialidades médicas, sendo um avanço recente a proposta de laudos conjuntos. A resolução cada vez maior das imagens obtidas por ultrassonografia, tomografia e ressonância magnética selecionam áreas com características de tumores que permitem a introdução de agulhas, fornecendo material celular ou tecidual para que o médico patologista possa firmar o diagnóstico de cada tipo de doença”, ressalta o médico.
Avanços
Outro campo com avanço significativo no diagnóstico dos tumores é a patologia molecular. As áreas selecionadas do tecido têm suas moléculas analisadas e as proteínas DNA ou RNA são verificadas. A técnica é essencial para diagnosticar a doença e direcionar o tratamento.
“Na patologia molecular, a atuação dos médicos patologistas consiste na identificação do sítio de localização de cada uma dessas moléculas nos mais variados tipos de lesão, permitindo selecionar o tipo de câncer e a fase evolutiva em que há a expressão de tais moléculas. Aquelas substâncias que forem preferencialmente encontradas em um tipo de câncer são então usadas como marcadores daquela lesão, e sua identificação já se comprova muito útil no diagnóstico de tumores”, diz Alves.
O oncologista Dr. Rene Gansl esclarece que a Medicina Nuclear é a especialidade médica usada para diagnosticar e tratar doenças com segurança e sem dor. Ela permite a detecção precoce de doenças, muitas vezes, antes que essas anormalidades sejam vistas em exames convencionais como, por exemplo, na tomografia computadorizada. A detecção precoce permite o início rápido do tratamento, aumentando as chances de controle e cura.
O contraste do exame consiste em uma medicação grudada com um material radioativo conhecido como radioisótopo. O radioisótopo emite uma radiação (raio gama) que é detectada por uma câmera e aparece no exame como um brilho, evidenciando as alterações que estão ocorrendo no corpo. Ela evidencia alterações no organismo sem a necessidade de se realizar uma cirurgia e, também, permite estudar o funcionamento de alguns órgãos, como os rins e o coração. Ela pode tratar doenças como o hipertiroidismo, o linfoma e, ainda, a dor óssea provocada por um câncer.
O exame de PET-CT é muito utilizado em oncologia. Consiste em um estudo que utiliza a medicina nuclear associada à tomografia computadorizada. O contraste utilizado (FDG) é uma glicose marcada com uma substância radioativa chamada Fluor -18. O exame é capaz de detectar células tumorais que consomem glicose, evidenciando lesões que são tão pequenas que não são vistas em uma tomografia computadorizada convencional. Essa detecção é importante para se traçar um adequado plano de tratamento para o doente.
"Utilizamos a medicina nuclear também nas cirurgias de tumor de mama. Ela permite localizar o linfonodo sentinela, que é o gânglio guardião, ou seja, o primeiro para onde as células tumorais seriam drenadas. Após localizar esse gânglio, ele é retirado pelo cirurgião e examinado por um patologista para se avaliar se há células tumorais comprometendo o gânglio. Essa técnica de detecção do linfonodo sentinela também é utilizada em alguns casos de melanoma maligno", explica Gansl.
Já o lutécio radioativo é uma modalidade moderna de tratamento de tumores neuroendócrinos. Essa substância radioativa é injetada no paciente e causa a morte das células tumorais. As modalidades de tratamento e exames da medicina nuclear podem ser usadas mais de uma vez, a fim de trazer o maior benefício possível ao paciente.
O médico patologista Venâncio Avancini Alves ressalta que algumas técnicas já consagradas na medicina tiveram avanços tecnológicos nos últimos anos. Os exames de imuno-histoquimica, por exemplo, permitem a classificação molecular do câncer de mama, auxiliando no prognóstico e no tratamento complementar da cirurgia. Existem testes moleculares ainda mais avançados que avaliam o material genético do tumor e fornecem informações sobre a agressividade e o risco de complicações como a metástase. Os avanços tecnológicos desses exames ajudam na precisão de resultados.
“A automação é hoje uma realidade, o que garante maior reprodutibilidade das reações. A melhora dessas condições tem propiciado avanços na quantificação da expressão de diversos antígenos, especialmente com a análise computadorizada usando novos softwares, em amostras de lâminas digitalizadas de modo automatizado. Ainda que persistam entre nós muitos problemas pré-analíticos, relacionados à colheita, identificação, fixação e transporte da amostra até seu processamento laboratorial”, enfatiza o patologista.
O sequenciamento de ácidos nucleicos - estudo de sequência principalmente de DNA - também teve grande avanço nos últimos anos. “A utilização desse exame, junto aos demais informes, ajuda especialmente ao detalhar os subtipos histológicos, o grau de diferenciação e as nuances referentes ao padrão de disseminação do tumor, e têm se mostrado promissora na seleção terapêutica oncológica”, completa o médico.
Para o tratamento do câncer o oncologista Dr. Rene Gansl diz que nos últimos 10 anos a oncologia progrediu muito. Surgiram novas drogas quimioterápicas, incluindo algumas orais, além da terapia alvo molecular. Essa última consiste em drogas que se ligam a alguns receptores nas células tumorais, impedindo a progressão da cascata de sinais responsável pela multiplicação celular. São exemplos de drogas alvo moleculares o bevacizumab, trastuzumab, lapatinib, erlotinib. As técnicas de radioterapia também se aperfeiçoaram, o que aumentou a eficácia e diminuiu a toxicidade do tratamento assim como novas técnicas da medicina nuclear.
O envelhecimento da população levou a um maior desenvolvimento da oncogeriatria. O idoso deve ser tratado por um oncologista com experiência em "enxergar" as particularidades do idoso e inseri-lo no mundo oncológico.
Antigamente, ter o diagnóstico de câncer era sinônimo de morte. Hoje, com todo o arsenal terapêutico, os pacientes vivem mais e melhor. O papel do oncologista clínico é oferecer o tratamento com a maior chance de cura e menor toxicidade, além de auxiliar o paciente com sua angústia e sofrimento emocional. O paciente é visto como uma pessoa com câncer e não como um câncer em uma pessoa.
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