Pressão alta tem sintoma?
O que é hipertensão arterial?
Se medirmos a pressão arterial da população adulta, em geral obteremos três padrões diferentes. Uma pequena porcentagem da população, cerca de 10%, tem pressão teoricamente considerada baixa. Para fins práticos, considera-se hipotensão qualquer pressão arterial sistólica (a de representação numérica maior) igual ou inferior a 10. Uma pessoa que tenha pressão 10 x 6 ou 9 x 7 é hipotensa. Clique no link azul e saiba mais sobre a pressão baixa.
Cerca de 70% da população, a grande maioria, tem pressão considerada estatisticamente normal. A sistólica (a maior) não passa dos 14 e a diastólica (a menor) não ultrapassa 9.
Um terceiro grupo, estimado em 20%, possui pressão alta, ou seja, acima da média normal, caracterizando a hipertensão. Nesse grupo é comum pessoas com pressão arterial igual ou maior que 14 sistólica e igual ou maior que 10 diastólica, 14 x 10. Com base nesses dados, o padrão utilizado para considerar o nível de pressão arterial normal é o do grupo que constitui a maioria.
É importante dizer que a hipertensão genética, familiar ou essencial não é uma doença. É um dado estatístico populacional. E, então, por que a mídia dá tanta importância à hipertensão?
Porque, estatisticamente, esse grupo de pessoas com pressão arterial mais alta que a média tende a ter maiores complicações vasculares, tanto cerebrais quanto cardíacas. Por conta desses fatos, quando se fala em hipertensão, imediatamente faz-se ligação com problemas cardíacos. Trata-se de um mito.
Hipertensão não é um problema cardíaco, mas sim dos vasos (artérias e veias). O coração sofre o impacto da pressão arterial elevada. Como exemplo, é como um atleta que faz exercícios. A musculatura do corpo desse atleta cresce! No caso do hipertenso, é o músculo do coração que precisa fazer mais força para mandar o sangue para frente, em função dos vasos mais apertados e estreitos e, por essa razão, hipertrofia (o músculo do coração cresce), o que não é bom. No caso da hipotensão, por exemplo, os indivíduos têm vasos mais complacentes, que se dilatam mais facilmente. Dessa forma, o sangue circula livremente pelos vasos, sem causar complicações.
Que tipo de pessoa tem mais propensão a sofrer alteração da pressão arterial?
Na grande maioria dos casos, a alteração da pressão arterial é de origem familiar, ou seja, genética. Existe uma porcentagem de hipertensos em decorrência de problemas renais. Entre esses pacientes, a maioria desenvolve hipertensão (pressão alta) e um contingente pequeno tem hipotensão (pressão baixa). Defeitos congênitos na suprarrenal (glândula situada acima do rim) fazem o organismo produzir mais hormônios hipertensivos, excesso de adrenalina ou de substâncias como corticoides, que retêm o sal no organismo.
Existe uma regra básica que possibilita saber se a pressão arterial está dentro dos limites da normalidade. Divide-se a pressão sistólica (a maior) por 2 e soma-se 2. O resultado deve ser igual à pressão diastólica (a menor). Ex: pressão 12 x 8 (12 : 2 = 6 + 2 = 8). Quando os valores medidos não correspondem a essa regra, existe um risco de predisposição para hipertensão arterial.
Em torno da pressão alta existe um mito que precisa ser esclarecido: o sistema nervoso não provoca hipertensão. Hipertensão por estresse é um mecanismo normal que acontece em todos os indivíduos diante de um quadro de agressão psicológica. Por exemplo, qualquer pessoa normal que se envolva em um acidente de trânsito, nessa hora, tem elevação da pressão. É uma elevação momentânea, chamada de hipertensão circunstancial, e ocorre diante de uma série de situações.
Um orgasmo, por exemplo, também eleva a pressão arterial, que chega a atingir níveis de até 14 na pressão diastólica (a menor). Em um idoso que tenha lesão na parede da artéria (aneurisma), um aumento agudo de pressão pode provocar o rompimento do vaso e uma hemorragia mortal. Esse é um motivo que pode explicar a morte súbita de uma pessoa idosa durante o ato sexual.
Vale esclarecer que para toda pressão anormal existe tratamento. O hipertenso que cuida de sua pressão à custa de remédios entra na categoria dos normotensos.
Quais os sintomas da pressão arterial alta?
A hipertensão pode ser considerada uma doença "muda e surda", que não provoca sintomas. Os hipertensos estão andando por aí e nem sabem que são hipertensos. Para saber se uma pessoa é hipertensa, a única maneira de fazê-lo é medindo a sua pressão.
A hipertensão somente traz sintomas se ela for secundária, isto é, decorrente de outras patologias. Por exemplo, a hipertensão renal provoca sintomas da doença renal, como palidez e anemia.
Quanto a dor de cabeça, ela aparece somente em hipertensões graves, que atingem níveis de 13 a 15 diastólica (a menor). O que acontece frequentemente é que o indivíduo que sofre de enxaqueca acaba descobrindo que tem hipertensão. Nesta situação ele acaba confundindo, e acha que a dor de cabeça é causada pela hipertensão. Mas uma coisa não tem nada a ver com a outra.
O que fazer para não se tornar um hipertenso?
A pessoa não se torna hipertenso porque quer. Em primeiro lugar, é muito raro alguém tornar-se um hipertenso depois dos 50 anos de idade. A hipertensão costuma surgir em pessoas na faixa etária entre 35 e 50 anos, quase sempre relacionada a um histórico familiar. O indivíduo cujo pai, mãe ou avô é hipertenso tem de procurar um médico e fazer o controle de sua pressão arterial a cada 6 meses. Outro fator que provoca a hipertensão é a obesidade.
Atualmente, sabe-se que a grande maioria dos hipertensos essenciais, ou seja, por fatores genéticos, são indivíduos que não conseguem eliminar a carga de sal que ingerem. Isso define um grupo de hipertenso. O normotenso pode ingerir sal à vontade, pois o rim o elimina. O hipertenso é aquele que tem um pequeno defeito genético no seu rim. Se ele comer, por exemplo, até 6 gramas de sal por dia, continuará normotenso. Se ele passar a ingerir 7, 8 ou 9 gramas de sal, irá acumulando no seu corpo um pouquinho de sal de cada vez e acabará tornando-se um hipertenso.
Já para o hipotenso, recomenda-se que coma maior quantidade de sal para normalizar a sua pressão arterial. Com uma quantidade a mais de sal, o organismo tende a reter um pouco de líquido, que ajuda a manter a pressão dentro da normalidade. Resumindo, restringir o sal da dieta é bom para o hipertenso, mas não é bom para quem é normotenso ou hipotenso.
Entre as mulheres, uma das causas da pressão alta é o uso da pílula anticoncepcional. Toda mulher que faz uso desse tipo de contraceptivo deve controlar sua pressão arterial. Normalmente, a pílula contém um hormônio que provoca aumento da produção de renina, substância relacionada ao aumento da pressão arterial.
Um esclarecimento: o médico especialista em hipertensão é o nefrologista. Ele investiga a hipertensão e, afastadas as causas secundárias, faz o diagnóstico como sendo de fator genético. O cardiologista, por exemplo, trata as consequências, mas não investiga a causa da hipertensão.
O cigarro causa alteração na pressão arterial? E a bebida alcoólica?
O cigarro não altera em absolutamente nada a pressão arterial, mas o álcool sim. Todo alcoólatra é estatisticamente mais hipertenso. Não é o caso daquele que bebe socialmente, o que não traz problema algum. O hipertenso pode beber socialmente, sem problemas.
É verdade que os exercícios físicos são de grande importância para o hipertenso?
Não. Existe uma relativa importância dos exercícios físicos para o hipertenso. O hábito de fazer ginástica ou caminhar faz bem à circulação e ao coração. Mas não tem nada a ver com a hipertensão.
Quando se fala em tratamento não medicamentoso da pressão arterial, prática muito utilizada atualmente, sugere-se a atividade física porque aumenta a circulação periférica, o que realmente pode reduzir um pouco a pressão arterial do hipertenso. Em outras palavras, se uma certa quantidade de sangue no corpo for distribuída para um maior número de vasos, a pressão do conjunto abaixa.
A atividade física pode ajudar um pouco o hipertenso. Fundamentalmente, o que ajuda mesmo é a manutenção de peso e a medicação.
O hipertenso precisa fazer algum tipo de dieta?
A principal dieta para o hipertenso é manter-se dentro do seu peso ideal. Se o paciente for gordo, deve emagrecer, porque as estatísticas relacionam o excesso de peso à hipertensão. Inúmeros trabalhos publicados no Brasil e no exterior mostram claramente que a redução de peso facilita nitidamente o controle da pressão.
A segunda dieta para o hipertenso é não abusar do uso de sal. É importante que ele siga uma dieta normal, com pouco sal. Nada impede, porém, que se coma bacalhau, que é por natureza um prato mais salgado. Atualmente, as medicações para os hipertensos ajudam a eliminar o sal ingerido.
Excluídas as observações médicas, a melhor maneira de tratar o hipertenso é não marginalizá-lo e não torná-lo um indivíduo isolado. Ele precisa ter vida normal, jantar na casa dos amigos e nos restaurantes, sem preocupar-se em ter de comer uma comida insossa, sem sal.
Uma pessoa que tenha pressão baixa pode tornar-se um hipertenso no decorrer da vida? Em que circunstâncias isso pode acontecer?
Sim, pode acontecer. E não é raro, porque a hipotensão é uma característica de gente jovem, da faixa etária até os 24 anos. E caso o paciente não tenha hipertensão como um componente genético, ele poderá desenvolvê-la por outros fatores, como a hipertensão endócrina ou a hipertensão por doença renal.
O fato de o indivíduo ser hipotenso não lhe garante o privilégio de sê-lo por toda a vida. Mas também não quer dizer que ele vá se tornar um hipertenso. Se ele passar dos 45 anos de idade como hipotenso ou normotenso, não se tornará um hipertenso de causa genética (hipertensão essencial).
A hipertensão mata? Por que?
Mata pelas complicações que pode provocar. Mas, também, pode não acontecer nada. É preciso lembrar que a hipertensão essencial não é uma doença, e sim um dado estatístico. Não se trata da hipertensão causada por problemas renais. Existem muitos hipertensos que vivem bem até 90 anos, sem tratamento. Por outro lado, há muitos normotensos (pessoas com pressão normal) que morrem aos 40 anos.
O hipertenso tem mais risco de morte que o normotenso. Mas não significa que, obrigatoriamente, o hipertenso tenha sua sentença de morte decretada antes, pelo fato de ter pressão alta.
Hipertensão têm cura?
A hipertensão não tem cura e tem de ser controlada por meio de remédios - clique no link para ler sobre como deve ser administrada as medicações para a pressão alta. Existem alguns tipos de hipertensão que se curam por cirurgia, que são as hipertensões secundárias, causadas por tumor da suprarrenal ou decorrentes de um estreitamento da artéria renal (a hipertensão renovascular). Então, corrige-se a causa e a pressão se normaliza.
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Prof. Dr. Emil Sabbaga é chefe de serviço de Transplantes de Órgãos no Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo e no Hospital Alemão Oswaldo Cruz; Professor Livre-Docente da Faculdade de Medicina — USP e da Disciplina de Nefrologia do Hospital das Clínicas de São Paulo e autor do capítulo de Nefrologia do Livro Medicina Mitos e Verdades (Carla Leonel). Conteúdo do livro.
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