Por que uma pessoa é alérgica?

Por que uma pessoa é alérgica?

A tendência ao desenvolvimento das alergias é genética e pode variar bastante com as influências ambientais. Mas se um dos pais tiver alergia, provavelmente mais da metade dos filhos poderão desenvolvê-la em alguma fase da vida. É importante esclarecer que, algumas vezes, a alergia pode se manifestar dias ou semanas após o contato com a substância alergênica. Esse fato ocorre quando não se formou no organismo uma quantidade suficiente de anticorpos capaz de provocar a alergia. Com a continuidade da exposição de substância alergênica, ocorre um aumento desses anticorpos, provocando, a partir disso, a reação alérgica.

Para exemplificar tal situação, pode-se citar o caso de uma pessoa que comece a usar determinado creme para o corpo. Após uma semana de uso contínuo desse creme, surge uma reação alérgica. Isso se sucedeu tardiamente, pois, apesar da substância ser alergênica, os anticorpos ainda não tinham se desenvolvido em uma proporção maior que os antígenos no organismo, sendo necessária a sucessão desse ato para que o ciclo se completasse e desenvolvesse então, a reação alérgica.

Por que ocorre a reação alérgica?

As alergias são reações do organismo devido a uma substância alergênica que se une a uma proteína e forma um antígeno (qualquer substância que, ao penetrar no organismo, provoque a formação de anticorpos), cuja ação determinará a reação alérgica, de acordo com a quantidade de anticorpos formada. Sempre que uma substância entrar em contato com o corpo e for identificada como "estranha", ele reagirá promovendo a formação de anticorpos que irão atuar contra essa substância. Quando atingir uma quantidade superior à quantidade de antígenos, desencadeará então a reação alérgica.

Para o leigo, essa afirmação pode parecer incoerente porque diz que a produção de anticorpos produzirá reação alérgica e a concepção de anticorpos é tida comumente como imunidade. Entretanto, é importante que se entenda que, quando existe a produção excessiva de anticorpos, seus efeitos se tornam indesejáveis. É o que ocorre, por exemplo, com as doenças conhecidas como autoimune, nas quais os anticorpos agem de uma forma inadequada contra os tecidos do próprio corpo provocando lesões.

No caso dos processos alérgicos, eles ocorrem quando os anticorpos assumem uma proporção de 2 anticorpos para cada antígeno. O complexo formado por antígenos e anticorpos atua sobre os mastócitos e os granulócitos (células do sistema de defesa do organismo) que liberam substâncias vasoativas (nos vasos sanguíneos), determinando assim o processo alérgico.

Quais os agentes ou substâncias capazes de provocar alergias?

Pesquisadores têm estudado com empenho as substâncias que podem causar ou exacerbar as alergias. Os principais alérgenos (causadores de alergias) descritos são:

• Inalantes, como poeira, mofo e pólen das plantas;

• Penas e pelos de animais, assim como picadas de insetos ;

• Alimentos, principalmente frutos do mar e chocolate;

• Medicamentos, como penicilina, analgésicos e anticonvulsivantes;

• Produtos usados na higiene corporal e também os de limpeza utilizados no lar e na indústria;

• Metais diversos, como o níquel por exemplo, utilizado na confecção de bijuterias.

Que tipo de risco corre o indivíduo alérgico?

Pessoas alérgicas a determinadas substâncias estão propensas a desenvolver alergias cada vez mais intensas, sempre que entrarem em contato com seus alérgenos. Não se deve esquecer que uma pessoa alérgica pode, no decorrer do tempo, desenvolver alergias a outras substâncias. As consequências de uma alergia são várias. As mais graves são:

• Erupções extensas da pele, à s vezes com lesões bolhosas e edema (inchaço) da pele;

• Angioedema (edema de glote), caracterizado por inchaço das vias áreas superiores (faringe e laringe), que pode provocar sufocação e morte. O angioedema pode ou não estar associado à urticária - placas edematosas localizadas ou disseminadas pelo corpo, que desaparecem em poucas horas. Às vezes, o edema começa nos lábios e nas pálpebras.

Manifestações importantes, como asma e rinite alérgica, devem ser tratadas precocemente na tentativa da cura definitiva. Caso contrário, sempre que entrar em contato com as substâncias que lhe causam alergias, a pessoa sentirá falta de ar e coriza.

• Choque anafilático: é a expressão mais grave de uma reação alérgica. É uma manifestação decorrente da liberação maciça de histamina e outros mediadores que desencadeiam reações em sequência capazes de alterar profundamente a função cardiovascular (vasodilatação e hipotensão arterial), respiratória (espasmo brônquico e edema das vias aéreas), além das manifestações cutâneas (urticária, rubor e edema) podendo levar ao óbito (choque distributivo).

Contrário do que se pensa, os anestésicos oferecem baixíssimos riscos de causar reações alérgicas (no máximo coceira ou placas eritematosas). Existem alguns antibióticos, por exemplo, que oferecem riscos potenciais para provocar um choque anafilático.

A boa notícia é sempre que a pessoa é socorrida em tempo hábil, raramente fica com sequela. Nos casos de intensidade moderada ou leve, a utilização de adrenalina (1ml a 1/1000) subcutânea lentamente associada a anti-histamínicos e corticoides injetáveis, também é importante.

Alergia tem cura?

Alergia não tem cura. Porém, a identificação dos elementos que possam desencadeá-la é muito importante para o seu controle. A vacina, meio de dessensibilização contra os fatores causadores da alergia, e o afastamento das substâncias alérgenas têm sido os principais métodos utilizados para controlar as crises alérgicas.

As vacinas são produzidas com pequena concentração da própria substância causadora da alergia. A aplicação das doses vai sendo aumentada gradativamente, dessensibilizando as substâncias que forem determinadas ou detectadas por meio de testes alérgicos. Entretanto, esses pacientes devem ser orientados por especialistas para evitar que outras substâncias também possam lhes causar alergias.

Existe meio de saber se uma pessoa é alérgica a alguma coisa?

Em primeiro lugar, o médico dermatologista deve fazer um estudo detalhado da vida do paciente e, em seguida, aplicar um dos quatro testes existentes para identificar os agentes alérgenos.

• Teste de contato: neste caso verifica-se quais agentes podem, em contato direto com a pele, desencadear a alergia. O teste é realizado pela aplicação da substância diluída na pele, deixando-a agir por 48 horas, quando então faz-se a primeira leitura clínica e após 72 horas a segunda leitura;

• Escarificação da pele: utilizado para investigar alimentos e inalantes como fator causal. O procedimento consiste em raspar um pouco da pele e pingar a substância ou o alimento em forma de suspensão. O resultado é imediato;

• Prick Test: teste cutâneo por puntura, que consiste em uma leve perfuração na pele do antebraço com uma gota do alérgeno. Essa aplicação pode resultar em uma reação parecida com uma picada de inseto, ou seja, no local da aplicação a área fica vermelha, inchada e aparece uma elevação mais clara no centro (chamada de pápula), que significa alergia ao alérgeno aplicado no local.

• Rast: exame de sangue específico para alergia, que dosa a quantidade de anticorpos IgE (os quais são produzidos no sistema imunológico), contra os alérgenos causadores da alergia. No caso de dosagem alta desses anticorpos, a pessoa pode desenvolver sintomas alérgicos quando em contato com alérgeno.

Quais as doenças alérgicas mais rotineiras?

As doenças cutâneas mais frequentes são:

• Eczema atópico: causado por uma alteração da função da pele (função barreira). Ocorre em indivíduos que hereditariamente têm propensão para desenvolver esse tipo de doença. O eczema manifesta-se em placas avermelhadas que descamam e provocam muita coceira. Surge nas dobras do pescoço, pálpebras, cotovelos e joelhos, sendo mais frequente em pessoas com pele seca. O eczema atópico está geralmente associado a irritação ou a alergia;

• Dermatite de contato: a dermatite de contato da pele pode ser causada por várias substâncias. As dermatites de contato não alérgicas ocorrem apenas no local de contato com a substância irritante. Já a dermatite de contato alérgica ocorre inicialmente no local de contato podendo, também, disseminar para áreas da pele que não tiveram contato com a substância.

• Urticária: as lesões costumam ser placas salientes e irregulares, brancas ou rosadas e com a parte central mais clara, provocando geralmente uma intensa coceira. São inúmeros os fatores desencadeantes e, entre os principais, incluem-se os medicamentos. Podemos citar também os alimentos e as causas físicas, como pressão na pele (provocada por um sutiã, por exemplo), calor, frio e água (quente ou fria).

No caso da água, a urticária explica histórias de pessoas que comem e, em seguida, entram no banho ou na piscina e morrem. No passado, esse fato era interpretado erroneamente como congestão. Na verdade, o que acontece é um choque anafilático em consequência de uma urticária aquagênica. Costuma ocorrer em pessoas que, após o banho, apresentam placas vermelhas pelo corpo, que podem desencadear um angioedema (edema de glote). É importante esclarecer que este fato não tem ligação com o alimento, e sim com a água. Ou seja, é um mito dizer que não se pode tomar banho após as refeições.

• Erupções medicamentosas: é importante salientar que o indivíduo nunca apresenta manifestações alérgicas a medicamentos, quando ingeridos pela primeira vez. Essas alergias podem surgir, por exemplo, na 2ª, 3ª ou na 10ª vez da ingestão do medicamento, mas nunca na primeira.

Quais os alimentos que mais frequentemente causam alergias?

Todos os alimentos, teoricamente, podem provocar reações alérgicas. Entretanto, os mais frequentes são chocolates, alimentos com corantes (salsicha, gelatinas coradas, sucos artificiais, balas, etc.), alimentos em conserva e frutos do mar, principalmente o camarão. Conheça a diferença entre alergia e intolerância alimentar clicando no link

As informações desta matéria são do livro Medicina, Mitos & Verdades (Carla Leonel), capítulo de dermatologia, Prof. Dr. Luiz Carlos Cucé (Prof. Titular Emérito do Departamento de Dermatologia da UNISA).

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