Anestesia em recém-nascidos

Anestesia em recém-nascidos

Quais os riscos que um recém-nascido sofre ao tomar uma anestesia geral?
Nos extremos de idade, neonatos e lactentes ou idosos, existe limitada capacidade de adaptação a novas situações. Nos recém-nascidos, muitos órgãos são imaturos. Já nos idosos, existe perda natural e gradual da função dos órgãos em razão da idade. Em ambos os casos, as complicações são mais frequentes.

Os adultos possuem reserva metabólica maior que as crianças. Pode-se, por exemplo, controlar melhor a temperatura do adulto do que a das crianças. A criança muito pequena e o lactente não são capazes de controlar adequadamente sua temperatura e é por esse motivo que os recém-nascidos ficam em berços aquecidos. Em uma operação relativamente curta, desde que sejam respeitados certos limites de temperatura ambiente, um adulto tem variação térmica limitada. Já um recém-nascido sob temperatura ambiente, não consegue manter o calor de seu corpo e poderá, então, ter complicações decorrentes do resfriamento. Nesses casos a hipotermia (baixa temperatura) é a complicação mais comum. Ela pode resultar em alterações da respiração, da circulação, do metabolismo e, além de certos limites, ser fatal.

Por limitação orgânica, no recém-nascido, curtos períodos de apneia (ausência de respiração), a hipoxemia (falta de oxigênio no sangue) desenvolve-se muito rapidamente. Já o adulto tolera ficar sem respirar alguns minutos, sem que isso provoque qualquer tipo de problema. Não respirando, o bebê logo fica cianótico (coloração escura ou "azulada" da pele em função da falta de oxigênio no sangue) e a oxigenação deficiente pode trazer consequências neurológicas ou parada cardíaca. O coração e o cérebro são órgãos que não toleram bem períodos curtos de hipóxia.

Uma outra situação séria em crianças é o controle das vias aéreas. As crianças têm a cabeça relativamente grande em comparação ao tamanho do corpo, além de terem a língua grande com relação ao tamanho da boca e suas vias aéreas serem muito estreitas. Dessa forma, uma pequena gota de secreção, que na traqueia do adulto não faria muita diferença, na traqueia de um recém-nascido poderia causar obstrução significativa, trazendo dificuldades para a ventilação intraoperatória e, eventualmente, predispondo a uma infecção pulmonar no pós-operatório.

Com relação aos idosos, mais relevante que a própria idade é a presença de doenças comuns aos grupos etários avançados, como hipertensão arterial, diabetes, doença vascular oclusiva cerebral, coronárias, entre outras.

Prof. Dr. José Luiz Gomes do Amaral é Prof. Titular da Disciplina de Anestesiologia, Dor e Terapia Intensiva da Escola Paulista de Medicina (UNIFESP); Ex-Presidente da Associação Médica Brasileira (AMB) por dois mandatos (2005-2008/2008-2011); Presidente da Associação Médica Mundial — entidade que congrega 97 países, representando 9 milhões de médicos e autor do capítulo de anestesiologia do livro Medicina Mitos e Verdades (Carla Leonel).

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