Ferimento e tétano: sintomas, tratamento e prevenção

Ferimento e tétano: sintomas, tratamento e prevenção

O tétano é uma doença considerada muito grave. Causado pelo bacilo tetânico entra no organismo humano através de ferimentos na pele ou mucosas. Cerca de 7 dias após a invasão da bactéria inicia-se os primeiros sintomas pela ação das toxinas. O período de incubação pode variar de 5 a 15 dias ou 3 a 21 dias. Quanto menor for período de incubação, pior será o prognóstico da doença.

O infectologista Prof. Dr. Vicente Amato Neto adverte que o tétano no adulto e no idoso é ainda mais grave: "Praticamente todos os doentes com tétano no Hospital das Clínicas de São Paulo são adultos e idosos que não foram vacinados quando criança e não se imunizaram depois", relata o médico.

Crianças, adultos e idosos que nunca foram vacinados, ou que pararam a vacinação precisam fazê-la. Em crianças, ela começa a ser aplicada no segundo mês de vida e é repetida em mais três doses mensais cujo efeito dura por dez anos, quando então é necessária nova dose de manutenção a cada dez anos, durante toda vida.

Sintomas do tétano

Inicia-se com calafrio, febre, dor de cabeça intensa, sensação de irritabilidade, seguida de contraturas musculares que é o sintoma característico do tétano.

• A rigidez muscular surge primeiramente nos músculos da mandíbula e do pescoço evoluindo para espasmos e quadros de convulsões. O paciente sente dificuldade para engolir. Às vezes os espasmos podem durar até 1 minuto e atingir os músculos de todo o corpo.

• Na contratura muscular generalizada e rigidez muscular progressiva, são atingidos os músculos reto abdominais e os do diafragma, o que leva à insuficiência respiratória.

• O paciente também pode sofrer de crises de contraturas desencadeadas por estímulos luminosos, sonoros ou manipulação da pessoa, provocando, inclusive, à morte.

A vacina faz efeito após o ferimento? Como agir nesses casos?

O bacilo do tétano produz uma toxina neurotrópica difícil ser neutralizada “in vivo”. Por isso é fundamental a vacinação preventiva, pois após o ferimento, uma dose da vacina não produzirá efeito curativo. Segundo o infectologista Prof. Dr. Vicente Amato Neto, o procedimento nessas situações é aplicar uma dose de gamaglobulina especial contra o tétano, que oferece ação protetora imediatamente e, a partir daí, continuar a vacinação. Gamaglobulina é uma preparação formulada a partir dos anticorpos de quem já os adquiriu.

O Ministério da Saúde orienta sempre que houver lesão da pele/mucosa, a pessoa deve lavar o local com água e sabão e procurar o serviço de saúde mais próximo para avaliar a necessidade de utilização de vacina ou soro. Se apresentar um dos sinais e sintomas característicos da doença (após lesão na pele/mucosas), procure com urgência a unidade ou equipe de saúde mais próxima. Lembre-se de explicar ao médico como ocorreu e o que causou a lesão.

Como é o tratamento do paciente com tétano?

O doente deve ser internado em unidade assistencial apropriada, preferencialmente em unidade de terapia intensiva (UTI) onde existe suporte técnico necessário ao seu manejo e suas complicações, com consequente redução das sequelas e da letalidade.

Na indisponibilidade de leitos de UTI ou unidades semi-intensivas a internação deve ocorrer em unidade assistencial, em quarto individual com o mínimo de ruído, de luminosidade e com temperatura estável e agradável.

Casos graves têm indicação de terapia intensiva (UTI).

Os princípios básicos do tratamento do tétano são: sedação do paciente, neutralização da toxina tetânica, eliminação do C. tetani do foco da infecção, debridamento do foco infeccioso e medidas gerais de suporte.

O tétano é transmissível de uma pessoa para outra? Como se contrai o tétano?

O tétano não é transmissível de uma pessoa para outra. A transmissão ocorre pela introdução de esporos da bactéria em ferimentos causados por objetos perfurantes, pregos e cercas ou qualquer objeto enferrujado.A pessoa também pode contrair o tétano por meio de lesões e ferimentos na pele em contato com solo contaminado por fezes de animais (bois, galinhas, porcos e principalmente cavalos) ou fezes humanas, e até pela poeira que se aloja sobre feridas abertas.

A bactéria do tétano vive melhor sem oxigênio, por isso, quanto mais profundo for o corte, maior a chance de produzir a toxina que se espalha pelo sistema circulatório e causa a doença tétano.

Pessoas com queimaduras e tecidos necrosados devem ter cuidado redobrado por já terem uma porta de entrada para o desenvolvimento da bactéria. O pó e o tecido morto favorecem o crescimento da bactéria.

Existe também o tétano neonatal, chamado do “mal de sete dias”, provocado pela contaminação do coto umbilical por instrumentos mal higienizados usados para cortar o cordão ou cobrir o coto. Os sintomas no recém-nascido são contrações, choro intenso e dificuldade para mamar.

Como prevenir o tétano em recém-nascidos?

A prevenção do tétano neonatal, deve ser feita a partir da vacinação de todas as mulheres em idade fértil (entre 12 e 49 anos), com três doses da vacina. Antes do parto, a mulher deverá ter tomado pelo menos duas doses da vacina e, caso sua última dose tenha sido há mais de cinco anos, ela deverá tomar um reforço. Além disso, é importante a melhoria da atenção ao pré-natal e ao parto, que deve ser prestada por pessoal capacitado em vacinação e procedimentos higiênicos adequados.

Vacina contra o tétano: quem pode se considerar protegido pela imunização após ferimento?

A manutenção de níveis adequados de cobertura vacinal é recomendada para toda a população e não somente para os considerados grupos de risco: crianças e pessoas da terceira idade, pessoas portadoras de úlceras de perna crônicas, trabalhadores como agricultores e operários da construção civil, e pessoas com mal perfurante plantar decorrente de Hansen.

A vacinação é a única forma de proteção. Em caso de ferimentos, só é considerado imunizado quem tomou as três doses de toxóide tetânico (presente em todas as seguintes vacinas: DTP, DT e dT), tendo sido a última dose há menos de dez anos. Os anticorpos do tétano não são "vitalícios". Por isso a vacina deve ser repetida a cada 10 anos. E a sua vacina, está em dia?

Conteúdo do livro Medicina Mitos e Verdades (Carla Leonel). Capítulo de infectologia. Médico responsável: Prof. Dr. Vicente Amato Neto (Prof. Titular Emérito do Departamento de Doenças Infecciosas da Faculdade de Medicina - USP) e Dra. Rosana Richtmann ( Médica Infectologista do Instituto de Infectologia Emilio Ribas - SP; Presidente da CCIH do Hospital e Maternidade Santa Joana e Pro Matre Paulista; Presidente da Sociedade Paulista de Infectologia).