Mitos e verdades da hemodiálise

Mitos e verdades da hemodiálise

Todo paciente em diálise espera por um transplante de rim?
Alguns sim, outros não. Em alguns pacientes não vale a pena fazer o transplante de rins. Nesses casos, o risco de vida pode ser menor mantendo-o em diálise. Pode-se dizer que 30% dos pacientes em diálise não são candidatos a transplantes. Existem pacientes com outras doenças, e um transplante não compensaria. São pacientes que já tiveram doenças cardíacas graves, tumores ou sofreram um pequeno derrame e, por esses motivos, não se justifica fazer o transplante. Nesses casos o paciente tem de submeter-se a hemodiálise pela vida inteira.

A grande vantagem é que a hemodiálise é gratuita. E se não fosse dessa maneira, muitos pacientes renais não estariam vivos.

Entre os pacientes que fazem diálise, existem os que esperam por um rim. Há doentes com mais de 5 anos em hemodiálise esperando por um doador. Infelizmente, é grande a falta de doadores no Brasil. Existe um outro grupo de pacientes que tem medo de submeter-se a transplante e prefere fazer hemodiálise.

O transplante renal é um procedimento seguro? Quais os riscos de haver rejeição?

A operação realmente é um procedimento que não garante sucesso absoluto e a perda do rim acontece em cerca de 20% dos casos. As razões são rejeição, problemas técnico-cirúrgicos e infecção pós-transplante, provocada pela imunodepressão (drogas usadas para evitar a rejeição do órgão, que favorecem a infecção).

No primeiro ano, a mortalidade é de aproximadamente 5%, também em decorrência de rejeição do novo órgão pelo organismo do paciente transplantado. É uma amostra pequena, mas existe. Já o ato cirúrgico do transplante renal é simples e não oferece risco algum.

E no ato da hemodiálise? Quais os riscos?

O processo de diálise em si não é prejudicial, desde que bem-feita por um serviço de alto padrão. É a doença que pode levar o paciente à morte. É frequente, nesses casos, que o paciente em hemodiálise tenha um infarto ou um derrame cerebral.

Nos bons serviços de diálise, 20% dos pacientes morrem durante o procedimento de diálise. Atualmente, no serviço do Hospital das Clínicas de São Paulo, a incidência anual de óbitos é de 10%, ou seja, para cada 100 pacientes que iniciam diálise, ao final de um ano, 90 estão vivos e 10 já morreram. Hoje, o Brasil tem mais de 90 mil pacientes em diálise. Nos últimos dez anos, este número cresceu 115%.

Em que circunstância uma pessoa deve se submeter a hemodiálise?

A diálise não é um tratamento definitivo para jovens. É impossível imaginar que uma pessoa com pouca idade, que tenha uma doença renal terminal, ficará em diálise a vida inteira, três vezes por semana, durante quatro horas por sessão. Para eles, diálise é um tratamento temporário. O transplante é considerado o tratamento definitivo para que o paciente renal crônico volte a ter uma vida normal. O transplantado não tem mais a doença, ficando completamente curado.

O paciente não é obrigado a fazer diálise, podendo fazer de imediato o transplante. Usa-se muito esse procedimento em diabéticos . O paciente diabético com 5 anos de diálise tem somente 20% de chance de sobreviver. Por esse motivo, recomenda-se o transplante antes de entrar em diálise. Hoje, o transplante de rim é um procedimento rotineiro.

Vale lembrar que qualquer pessoa pode viver somente com um rim. Um familiar do doente renal pode doar um dos rins e isso não lhe acarretará nenhum tipo de problema.

Quais os avanços e novidades em hemodiálise crônica e nos transplantes renais ocorridos nos últimos dez anos?

• Na hemodiálise, temos o surgimento da hemodiálise diária (a rotina, até agora, é de três vezes por semana). Embora esse procedimento ainda esteja em fase experimental, muitos serviços já o adotaram. O processo é curto, no máximo 90 minutos, em oposição as 3h30 clássicas. A vantagem é uma considerável melhora nos níveis de pressão arterial e no controle dos distúrbios hidroeletrolíticos, em especial, no cálcio e no fósforo.

• Com o advento também de uma nova droga, o Renagel® (cloridrato de sevelamer), pode-se controlar melhor as manifestações das calcificações arteriais, inclusive coronarianas, frequentes nos hemodialisados crônicos. Com isso, diminuem as complicações cardiovasculares, responsáveis pela maior incidência de óbitos nesses pacientes.

• No setor de transplante renal, o avanço mais importante foi o aparecimento de novas drogas imunossupressoras. Exemplificando: há dez anos, o índice de rejeição celular aguda (complicação temida), que ocorria nos primeiros meses do transplante, era por volta dos 60% dos casos. Hoje, esse índice caiu para cerca de 10%, e na quase totalidade revertida.

• Além disso, novas técnicas farmacológicas permitem, hoje, que pacientes previamente sensibilizados (impedidos, portanto, de receber enxerto) possam ser transplantados. Esse foi, seguramente, um avanço significativo.

Conteúdo do livro Medicina Mitos e Verdades (Carla Leonel) - Capítulo de Nefrologia. Médico responsável Prof. Dr. Emil Sabbaga. Foi ele o coordenador clínico do primeiro transplante de órgãos no Brasil no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina (USP), em 21 de janeiro de 1965, tendo recebido da Universidade, o título de pioneiro dos transplantes. Por este e outros significativos pleitos a Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO) resolveu conceder a cada dois anos, um prêmio para o melhor trabalho em transplante, prêmio esse, que leva o nome “Prêmio Emil Sabbaga”. Em 30 de agosto de 2000, por ocasião do XVIII Congresso Internacional de Transplantes, realizado em Roma, Prof. Dr. Emil Sabbaga recebeu homenagem pública pelo desenvolvimento do transplante de órgãos em todo o mundo.

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