Você se sente vítima na relação?

Você se sente vítima na relação?

Talvez um dos requisitos mais importantes para o sucesso de um relacionamento romântico seja fundamentá-lo sobre um alicerce de realismo. Isso significa a capacidade e a disposição para ver nosso parceiro como ele realmente é, com defeitos e virtudes, em vez de tentar levar adiante um romance baseado em fantasia.

Primeiro, vamos tratar do caso negativo: se eu não vejo e amo meu parceiro como uma pessoa real em um mundo real, se crio uma fantasia sobre ele, usando-o somente como um trampolim para minha imaginação e meus desejos, estou condenado a, mais cedo ou mais tarde, me ressentir com a pessoa real, que não está de acordo com minhas fantasias. Se escolho fingir que meu parceiro não possui determinados defeitos, se me recuso a incluir seus defeitos no seu quadro geral, é provável que mais tarde me sinta ferido, ultrajado e traído e que represente o papel de vítima confusa. “Como pode fazer isso comigo?”

Uma das razões pelas quais tantos homens e mulheres parecem apaixonados por uma fantasia, e não pela pessoa real que dizem amar, é o fato de eles rejeitarem muito de suas necessidades, vontades, dores e desejos que conscientemente desconhecem, mas que talvez procurem satisfazer, resolver ou encobrir. Uma pessoa que não é consciente de suas necessidades profundas pode reagir a outra baseando-se em características completamente superficiais, sempre que estas acendam a esperança ou a crença de que o relacionamento atual possa satisfazer a estas necessidades.

Por exemplo, um homem sensível e inteligente que não foi popular com as mulheres durante sua adolescência (talvez fosse muito sério ou tímido) pode encontrar aos vinte anos uma bela jovem que seja o tipo de mulher que ele nunca teve. Ele fica fascinado, encantado e, subconscientemente, cria esperanças e expectativas de que se a tiver conseguirá curar todas as feridas e a solidão da sua adolescência; isso varreria todas as rejeições passadas, satisfaria todos os seus sonhos não realizados durante aqueles dolorosos e solitários anos.

É claro que ele não verbaliza nada disso, não conceitua nada, mas estes são os pensamentos que operam dentro dele. É muito fácil para ele, especialmente se está decidido a se enganar, ignorar o fato de que ele e esta mulher nada têm em comum, nem valores, nem interesses, nem o modo de ver a vida ou pontos de vistas relativos a questões importantes, e se ele a ganhasse, não muito tempo depois, morreria de tédio. Se ela reage a ele, se o relacionamento se forma, pode haver inicialmente uma grande dose de paixão e uma grande intensidade, mas não é muito difícil saber que este “amor” morrerá.

Por outro lado, quando escolhemos ver nosso parceiro de uma forma realista, sem nos enganarmos, o amor estará realmente em primeiro lugar, terá uma maior oportunidade de crescer. Sabemos quem estamos escolhendo, e não nos surpreenderemos com as atitudes de nosso parceiro.

Para ilustrar esta situação, uma mulher muito bem-casada certa vez comentou: “Uma hora depois de conhecer o homem com quem me casei, eu poderia lhe dizer os aspectos que dificultariam nossa convivência. Eu acho que ele é o homem mais excitante que já conheci, mas nunca me iludi sobre os fatos de que ele também é um dos mais pensativos. Muitas vezes é como um professor mentalmente ausente. Ele gasta um grande tempo em seu mundo particular. Eu tinha que saber disso antes; caso contrário, teria me decepcionado depois. Ele nunca fingiu ser outro tipo de homem. Não consigo entender as pessoas que dizem se sentir feridas ou chocadas como a forma como seus companheiros se distanciam. É tão fácil ver as pessoas se você somente presta atenção! Eu nunca fui tão feliz em minha vida como agora, com esse casamento. Mas não porque eu digo que meu marido é “perfeito” ou sem falhas.” Ela acrescentou: “Acho que por isso que eu aprecio tanto a sua força e as suas virtudes. Eu quero ver tudo.”

Este é o romantismo realista, não o romantismo dos contos de fadas. Quando a paixão e a visão estão integradas, o amor pode aflorar.

Bibliografia: A psicologia do amor (Nathaniel Branden)