As principais lesões no atletismo

As principais lesões no atletismo

Muita gente associa o atletismo como "sinônimo" de corrida, o que não passa de um ledo engano. Apesar de ser a corrida o esporte mais popular e conhecido pela população, o atletismo envolve outras provas, tais como, salto em distância, salto em altura, salto com vara, lançamento de dardo, martelo e disco, além de arremesso de peso. Dentro da prova de corrida, que inclui diferentes distâncias, faz parte também as corridas de revezamento e a marcha atlética. No Brasil, a direção do Atletismo é de responsabilidade da Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt), filiado a IAAF (International Athletics Amateur Federation), órgão internacional responsável pelo Atletismo mundialmente.

O atletismo, por ser um esporte sem contato físico, grande parte das lesões são decorrentes das características biológicas, individuais e psicossociais de cada atleta. Nisso inclui, idade, sexo, nível de competição, tempo de treinamento, modalidades praticadas, estado de nutrição, hábitos errados, aspectos psicológicos, além das características biomecânicas dos tecidos que se alteram com a evolução da idade. Qualquer risco assumido pelo atleta o torna mais vulnerável a lesões, principalmente, pela sobrecarga do seu próprio sistema locomotor.

As lesões, quando não diagnosticadas e tratadas, se tornam crônicas, limitando o rendimento esportivo, além do ônus de poder se tornar definitiva. É frequente ver atletas que encerram suas carreiras prematuramente, antes de terem atingido o desempenho máximo dentro da modalidade. De acordo com pesquisas, um quarto dos esportistas afirma serem as lesões as principais causas na decisão de abandonar o esporte competitivo.

No atletismo, as dores e lesões predominam nos membros inferiores (82,2%), principalmente nos músculos, pela grande carga exigida durante as provas. Rupturas e distensões musculares se destacam como as principais vilãs.

Confira as estatísticas de acordo com recentes estudos publicados; as principais regiões de lesões no atletismo durante treinamentos e competições:

1. Coxa (53%): neste artigo vamos dar enfoque a esta região que coincide com a prova que mais apresenta lesões - velocidade e barreiras (43,3%).

Na corrida os músculos tem a função de acelerar o corpo na direção horizontal e agir contra a força de gravidade atuante na direção vertical.

Os velocistas, por sua vez, necessitam de preparação física voltada no desenvolvimento de potência muscular e resistência anaeróbica para conseguir manter passadas de grande amplitude.

O ganho de velocidade está relacionado às descargas elétricas geradas pelos nervos e músculos quando executam um movimento de contração.

Os músculos posteriores da coxa (isquiotibiais) atuam como extensores do quadril e flexores do joelho simultaneamente, gerando e coordenando os movimentos das duas articulações.

As principais causas de lesões dos músculos isquiotibiais (posteriores da coxa): anatomia, desequilíbrio de forças entre músculos isquiotibiais e músculos quadríceps da coxa, proporção elevada de fibras musculares em relação aos músculos quadríceps e adutores, fraqueza da musculatura, aquecimento e alongamentos ineficientes, deficiência de flexibilidade e coordenação neuromuscular (nervos e músculos).

É importante ressaltar que, muitas vezes, o atleta dá mais ênfase ao quadríceps por ser mais valorizado na questão estética, deixando os isquiotibiais mais vulneráveis, provocando esse desequilíbrio de fortalecimento.

Quanto a potência da força que o músculo pode produzir ela é proporcional ao padrão de distribuição de fibras musculares e está relacionada com comprimento dos músculos (componente passivo) e a sua atividade contrátil (componente ativo). Quando as fibras musculares são estiradas além do seu limite, ocorre o estiramento muscular. Se acontece durante a corrida, a dor normalmente é imediata.

A recorrência das lesões após tratamento estão relacionadas ao tempo de reabilitação insuficiente, e retorno precoce ao treinamento de velocidade.

Para prevenção dessas lesões, é importante o diagnóstico da relação de forças e fortalecimento dos outros grupos musculares para existir uma relação adequada entre eles.

As outras lesões mais frequentes no atletismo, segundo as estatísticas:

2. Joelho (17,5%)
3. Tronco e membros superiores (11,7%)
4. Tornozelo e pé (9,1%)
5. Perna (8,3%)

Os cinco tipos de provas que mais apresentam lesões:

1. Velocidade e barreiras (43,3%)
2. Provas de salto (30,8)
3. Provas de arremesso (13,3%)
4. Corridas de meio-fundo (7,5%) - 800m, 1.500m e 3.000 metros
* As passadas de um corredor de meio-fundo apresenta amplitude menor do que os velocistas, porém maior do que os fundistas.
5. Corridas de fundo (5,0%) - 5.000m, 10.000m até a maratona (42.195 metros)

Toda lesão pode ser evitada desde que se adotem medidas preventivas. Vamos a elas:

  • Conhecer as regras da modalidade praticada;
  • Uso de equipamentos e acessórios dentro dos padrões exigidos;
  • Utilização de calçados específicos para a modalidade praticada;
  • Para os velocistas, evitar usar o mesmo tênis nos treinos de dias consecutivos, sobre a mesma superfície, à mesma velocidade;
  • Orientação e treinamento com técnico especializado;
  • Evitar aumento abrupto no volume de treinamento;
  • Condicionamento muscular nas situações de intensidade e duração que simulem a real demanda durante a execução dos movimentos;
  • Preparação com foco na potência muscular e resistência anaeróbica;
  • Estar atento à posição e a angulação do tronco e membros de acordo com a modalidade esportiva;
  • Antes do treino, realizar um período de aquecimento, seguido de alongamento leve das musculaturas excêntricas e concêntricas;
  • Praticar regularmente exercícios de alongamento;
  • Treinar as outras regiões do corpo, além das exigidas para a modalidade;
  • Evitar treinamentos longos ou de sobrecarga nos dias de fadiga acentuada ou nos períodos de recuperação de lesões;
  • Respeitar o período de recuperação após treinos de alta intensidade.

Adotando todas as medidas preventivas é possível evitar ou minimizar muitas das lesões. Não menosprezando jamais o diagnóstico precoce e o tratamento correto, que são requisitos fundamentais para a cura. Não banalize a dor. O tempo nesse caso, também é seu maior adversário.

Fonte: Moises Cohen, Cristiano Frota de Souza Laurino e Alberto de Castro Pochini. Prof. Dr. Moisés Cohen é Professor Titular e Chefe do Departamento de Ortopedia e Traumatologia da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo; Presidente da International Society of Arthroscopy Knee and Sports Medicine (ISAKOS) e autor do capítulo de ortopedia do livro MEDICINA MITOS E VERDADES (Carla Leonel)